AS DELUSÕES DE UMA SOCIEDADE E A BUSCA POR UM CAMINHO DO MEIO

– A sociedade em que vivemos é de índole suicida, a qual é apenas o resultado de muitos paradigmas, os quais, ilusoriamente, beneficiaram seres em processo de desequilíbrio, mas que, desde o passado longínquo, detiveram e continuam detendo poderes, alterando crenças religiosas, a própria história, ideologias, costumes, tudo em um frenético ritual de destruição em busca de uma suposta felicidade, baseada na conquista do poder, de riquezas e da escravidão do homem pelo próprio homem. Hoje, diga-se de passagem, a escravidão continua com o uso de técnicas bem mais sutis do que as de séculos passados.

– A atual sociedade dominada por falsos paradigmas, alguns da área econômica e outros da área religiosa e educacional, tidos como pétreos, age como um grupo de gafanhotos vorazes que ao atacar uma plantação, em pouco tempo, a destrói por completo.

– Quando alguns, por milagre, ou por falhas do sistema ideológico imposto, ou por outros meios conseguem acordar da letargia em que se encontram, se deparam com um mundo em um processo acelerado de desequilíbrio, com guerras fratricidas e patéticas como a de Gaza (tudo em nome de Deus é claro), com a destruição da vida planetária, com o consumismo que deveria ser frugal, mas é exacerbado e altamente predatório, com religiões altamente lucrativas, as quais, umas por fanatismo criam terroristas fundamentalistas, outras chegaram a transformar Deu$ e o Mestre Je$u$ em algo muito lucrativo, como se bem vê pelas mídias e esquinas sombrias e perigosas das grandes cidades do mundo inteiro, principalmente nos países ocidentais. Há honrosas e nobres exceções.

– Apesar de tudo, acreditamos que teremos um dia a sociedade ideal, em consonância com os princípios e leis estabelecidos pelo universo e pelas (re)descobertas da física quântica, mas para isso ocorrer, ainda existe um longo caminho a percorrer, ou talvez nem haja mais tempo, já que o planeta (Gaia) esta doente e pode ser uma doença irreversível. Uma coisa é certa: se a doença não for minimizada a espécie predadora humana estará abreviando os seus dias, pois para controlar gafanhotos predadores deve-se usar venenos letais, os quais já estão sendo criados, ironicamente, pelo próprio homem.

– Em todo esse contexto explosivo, algumas pessoas, infelizmente minoria, conseguem viver em paz e bem no olho do furacão. Os budistas e outros segmentos filosóficos e religiosos, adotam um certo caminho que se abstém das delusões que levam ao sofrimento. Esse caminho traria o equilíbrio e o despertar de uma consciência mais limpa e sem sofrimentos. Quebraria os paradigmas destrutivos da razão de se ver o mundo e a vida nele inserido como realmente deve de ser visto.

– Esse caminho é conhecido pelos budistas como “O Caminho das Oito Práticas Corretas”, ou seja: I. Sabedoria: 1. Visão correta, 2. Intenção correta.II. Ética: 3. Fala correta, 4. Ação correta, 5. Meio de vida correta. III. Meditação:6. Esforço correto, 7. Atenção correta, 8. Concentração correta.  

– Apenas os que possuem discernimento e humildade de ler, de se aprofundar, ouvir com a mente e o coração abertos serão capazes de entender e usar essas oito chaves que abrem oito portas para o caminho do meio, para o caminho do despertar.

– Enfim, uma vez rompido a índole suicida da espécie humana, quem sabe se esses poucos seres iluminados não irão revolucionar os sobreviventes do caos social, econômico e ambiental da sociedade humana e iniciar uma civilização mais iluminada e equilibrado com os princípios e leis que regem o universo e todas as dimensões.

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“A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal,evitando os dogmas e a Teologia. Abrangendo os terrenos material e espiritual, essa religião será baseada num certo sentido religioso procedente da experiência de todas as Coisas, naturais e espirituais, como uma unidade expressiva ou como a expressão da Unidade. o Budismo corresponde a essa descrição.”

Einstein

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A VIDA DESVALORIZADA PELO CAPITALISMO

– Mais um alerta da catástrofe social, econômica e ambiental destinado, principalmente, para os que realmente controlam o sistema ideológico capitalista neoliberal irracional e predador.

– Leonardo Boff foi contundente em suas palavras. Mostra a realidade nua e crua do que está acontecendo na sociedade tecnicista, altamente mecanizada e despossuída de valores vitais da vida, pois para eles tempo é dinheiro e não arte da vida.

– Tal como um lendário vampiro das trevas que sugava o sangue de suas vítimas, o atual monstro capitalista (neoliberal) suga a energia planetária e se mantém através do esbanjamento consumista descontrolado de materiais não renováveis do planeta Terra (Gaia) e do controle das mentes e dos desejos ilusórios implantados na maioria dos humanos mergulhados em uma espécie de hipnose coletiva.

– Leonardo Boff tem toda a razão quando diz que “eles não amam a vida”.

– Leia e medite neste desabafo que mostra o andamento de um pesadelo criado por mentes insanas, as quais se julgam acima das leis que regem o Microcosmo e o Macrocosmo. (jvilsemar)

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ELES NÃO AMAM A VIDA

Leonardo Boff[1]

Hoje assistimos algo absolutamente inédito e de extrema irracionalidade: a guerra contra a Terra. Sempre se faziam guerras entre exércitos, povos e nações. Agora, todos unidos, fazemos guerra contra Gaia: não deixamos um momento sem agredi-la, explorá-la até entregar todo seu sangue

A busca de uma saída para a crise econômico-financeira mundial está cercada de riscos. O primeiro é que os países ricos busquem soluções que resolvam seus problemas, esquecendo do caráter interdependente de todas as economias. A inclusão dos países emergentes pouco significou, pois suas propostas mal foram consideradas. Prevaleceu ainda a lógica neoliberal que garante a parte leonina aos ricos.

O segundo é perder de vista as demais crises, a ecológica, a climática, a energética e a alimentar. Concentrar-se apenas na questão econômica, sem considerar as outras, é jogar com a insustentabilidade a médio prazo. Cabe recordar o que diz a Carta da Terra: “nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções includentes” (Preâmbulo).

O terceiro risco, mais grave, consiste em apenas melhorar as regulações existentes em vez de buscar alternativas, com a ilusão de que o velho paradigma neoliberal teria ainda a capacidade de tornar criativo o caos atual.

O problema não é a Terra. Ela pode continuar sem nós e continuará. A magna quaesto, a questão maior, é o ser humano voraz e irresponsável que ama mais a morte que a vida, mais o lucro que a cooperação, mais seu bem estar individual que o bem geral de toda a comunidade de vida. Se os responsáveis pelas decisões globais não considerarem a inter-retro-dependência de todas estas questões e não forjarem uma coalizão de forças capaz de equacioná-las aí sim estaremos literalmente perdidos.

Na verdade, se houvesse um mínimo de bom senso, a solução do cataclismo econômico e dos principais problemas infra-estruturais da humanidade seria encontrada. Basta proceder a um amplo e geral desarmamento já que não há confrontos entre potências militares. A construção de armas, propiciada pelo complexo industrial-militar, é a segunda maior fonte de lucro do capital. O orçamento militar mundial é da ordem de um trilhão e cem bilhões de dólares/ano. Já se gastaram somente no Iraque dois trilhões de dólares. Para este ano, o governo norte-americano encomendou armas no valor de um trilhão e meio de dólares.

Estudos de organismos de paz revelaram que com 24 bilhões de dólares/ano – apenas 2,6% do orçamento militar total – poder-se-ia reduzir pela metade a fome do mundo. Com 12 bilhões – 1,3% do referido orçamento – poder-se-ia garantir a saúde reprodutiva de todas as mulheres da Terra.

Com grande coragem, o atual Presidente da Assembléia da ONU, o padre nicaragüense Miguel d’Escoto, denunciava em seu discurso inaugural em meados de outubro: existem aproximadamente 31.000 ogivas nucleares em depósitos, 13.000 distribuídas em vários lugares no mundo e 4.600 em estado de alerta máximo, quer dizer, prontas para serem lançadas em poucos minutos.

A força destrutiva destas armas é aproximadamente de 5.000 megatons, força que é 200.000 vezes mais avassaladora que a bomba lançada sobre Hiroshima. Somadas com as armas químicas e biológicas, pode-se destruir por 25 formas diferentes toda a espécie humana. Postular o desarmamento não é ingenuidade, é ser racional e garantir a vida que ama a vida e que foge da morte. Aqui se ama a morte.

Só este fato mostra que a atual humanidade é feita, em grande parte, por gente irracional, violenta, obtusa, inimiga da vida e de si mesma. A natureza da guerra moderna mudou substancialmente. Outrora “morria quem ia para a guerra”. Agora não, as principais vítimas são civis. De cada 100 mortos em guerra, 7 são soldados, 93 são civis, dos quais 34, crianças.

Na guerra do Iraque já morreram 650.00 civis e apenas cerca de 3.000 soldados aliados. Hoje assistimos algo absolutamente inédito e de extrema irracionalidade: a guerra contra a Terra. Sempre se faziam guerras entre exércitos, povos e nações. Agora, todos unidos, fazemos guerra contra Gaia: não deixamos um momento sem agredi-la, explorá-la até entregar todo seu sangue. E ainda invocamos a legitimação divina para o nosso crime, pois cumprimos o mandato: “multiplicai-vos, enchei e subjugai a Terra”(Gen 1,28).

Se assim é, para onde vamos? Não para o reino da vida.


[1] Leonardo Boff é escritor e teólogo.

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O CALENDÁRIO GREGORIANO É FALHO?

– O atual sistema de marcação de tempo tem a sua origem na Babilônia. O antigo Império Romano utilizou-se desse calendário, fazendo diversas modificações duvidosas, as quais serviram aos interesses políticos de Roma.
– Coube ao Papa Gregório XIII, em 1512 d.C, colocar ordem em vários pontos obscuros e depois de uma série de Concílios e estudos de pouca fundamentação, criaram paradigmas e datas fantasiosas. Dessa maneira nos foi legado um calendário repleto de falhas, o qual é utilizado pela maioria dos países ocidentais.
– Com novas descobertas científicas, agora sem perseguições religiosas e políticas, o calendário Gregoriano passou a ser questionado. Cientistas, arqueólogos e historiadores descobriram que ele apresenta falhas substanciais quanto ao aspecto astronômico e no seu aspecto prático, como o ciclo irregular de 28 dias, 30 dias e 31 dias. Talvez a falha mais importante seria o de não se coadunar com os ciclos energéticos naturais solar, lunar e da Terra.
– Por esse viés, muitos cientistas e estudiosos, além de organizações internacionais começaram, paulatinamente, a propor uma nova reforma no sistema de marcação de tempo, inclusive junta a ONU, já que o calendário Gregoriano, com as novas (re)descobertas, representa, para alguns estudiosos, uma forma arbitrária, artificial e materialista imposta em um período ditatorial e inquisitorial da Igreja Católica Apostólica Romana.
– O calendário que está sendo proposto era utilizado pelo povo Maya (550 a.C – 850 d.C) e de acordo com as pesquisas, este sim representa, matematicamente, os ciclos vibracionais solares, lunares e terrenos.
– A reforma, a longo prazo, irá ocorrer, pois os paradigmas, antes tidos como pétreos, não resistem à luz da ciência que procura sempre evoluir e nunca estagnar.
– Com esse novo calendário, a marcação de tempo será baseada em um fluxo energético natural, muito diferente do calendário Gregoriano, oriundo da Babilônia e adotado por Roma (Daí a César o que é de Cesar), o qual não segue os ciclos vibracionais energéticos naturais do planeta, além de manter o povo preso a um calendário puramente materialista.
Nesse sentido, veja um pequeno trecho de um artigo que descreve em que transformaram as festas de Natal e Reveillon:
O nascimento de Jesus é comemorado com uma corrida enlouquecida ao consumo, em nenhuma outra época se consome tanto. O ano novo é comemorado à meia-noite. Mas o dia começa quando o sol nasce. Quando nasce a luz. O reveillon é uma grande bebedeira, de modo que na hora do sol chegar estão todos de ressaca, bêbados, inconscientes, com dor de cabeça e cheios de dívidas. Reflitam. Esse ritmo acelerado da inconsciência se repete ao longo dos 12 meses, portanto a questão não é se mudamos ou não de calendário. A questão é porquê temos que mudar de calendário. A razão da necessidade de mudar o calendário é a ativação consciente do corpo de luz planetário, a ascensão da Terra. Se a civilização humana começa a construir uma relação saudável, harmônica, criativa e inteligente com a Terra, no que se refere à utilização dos recursos naturais, tecnológicos, econômicos e energéticos, o salto quântico trará como conseqüência o modo de vida da consciência cósmica. E essa consciência é resultante dos ciclos evolutivos descritos no tempo, o tempo enquanto freqüência organiza as geometrias do espaço e a atividade auto-reflexiva da mente. Quando estamos no centro do tempo, concentrados no aqui e agora, atentos ao que criamos, estabelecemos contato com essa onda que atravessa as dimensões, proveniente do núcleo da Criação. (Artigo Calendário Maya – http://www.casa-indigo.com)
– Vamos aguardar, para as próximas gerações, essas mudanças salutares e esperamos que uma nova consciência espiritual e ambiental aliada com um novo calendário, que seja harmônico com as energias do planeta sobrepujando a materialidade, o individualismo, o fanatismo dos cristãos, dos muçulmanos, do judaísmo, com todas as suas guerras insanas, além da  desvalorização da vida humana e de todas as demais espécies que habitam o nosso planeta.
– Hoje, pelo calendário Gregoriano é 1º de janeiro de 2009. As atrocidades, os desequilíbrios sociais irão continuar cada vez mais intensos no decorrer dos meses. Enquanto não mudarem a freqüência vibratória destrutiva, a qual mantém o povo em um estado hipnótico coletivo a destruição continuará.
– Com a mudança da freqüência deletéria para a espiritual, bem como a utilização de um calendário verdadeiramente voltado para os ciclos planetário, solar e lunar, a espécie humana teria vários ganhos coletivos. Seria uma outra realidade que poderia ser estampada assim:
1) O ser humano não precisará mais pagar para nascer, pagar para viver e pagar para morrer;
2) Que a sociedade materialista foi desmobilizada e não mais é dominada pelo dinheiro, pelas máquinas, pelas bolsas de valores do mundo;
3) O ser humano não está mais provocando as guerras, as contaminações atmosféricas, as produções de armamentos letais para se divertirem matando outros seres humanos e o próprio planeta;
4) Que as gritantes desigualdades sociais deixaram de existir no planeta Terra;
5) Que os seres humanos não são mais dependentes de drogas que os escravizam psiquicamente e fisicamente;
6) Que os seres humanos não mais desperdiçam os recursos naturais limitados do planeta Terra;
7) Que as cidades gigantescas e desumanas encolheram com a retirada de milhares de pessoas de volta para as áreas rurais equilibradas pela sustentabilidade, evitando que as toneladas de monóxido de carbono e dejetos do consumismo capitalista contaminem a atmosfera, os rios e oceanos do planeta.
– Enquanto isto não acontece verdadeiramente, um grupo de pessoas espalhadas pelo planeta Terra (Gaia) tentam acelerar as mudanças com uma nova consciência e um novo marcador de tempo, para um mundo mais justo e perfeito coletivamente e não mais individualmente.
– Sendo assim, para encerrar, mesmo com as falhas do atual marcador de tempo, desejo:
– UM FELIZ E PRÓSPERO ANO NOVO DE 2009 PARA OS QUE PENSAM NA EQUIDADE, NA JUSTIÇA E NA RETIDÃO (ESQUADRO) E TENHAM PRECISÃO NA EXECUÇÃO (RÉGUA) DA FALA CORRETA, DA COMPREENSÃO CORRETA, DO PENSAMENTO CORRETO, DA AÇÃO CORRETA, DO MEIO DE VIDA CORRETO, DO ESFORÇO CORRETO, DA ATENÇÃO PLENA CORRETA, DA CONCENTRAÇÃO CORRETA. UM FELIZ E PROSPERO ANO NOVO DE 2009 PARA OS QUE TENHAM VONTADE NA APLICAÇÃO (MALHO) DE BONS VENTOS PARA A GRANDE MUDANÇA E PARA OS MATERIALISTAS, TERRORISTAS, CONSUMISTAS EXACERBADOS, FANÁTICOS DO CAPITALISMO SMITHIANO, DO NEOLIBERALISMO E RELIGIOSOS ENSANDECIDOS, DEIXAMOS A NOSSA COMPAIXÃO (TROLHA), POIS ESTES DISSEMINAM ILUSÕES DE UMA FALSA FELICIDADE E SÃO CONTRÁRIOS A VIDA E AO EQUILÍBRIO CÓSMICO.
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– Para conhecer um pouquinho mais:
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PROPAGANDA SUBLIMINAR. VERDADE OU MENTIRA?

– O estudo das mensagens subliminares[1] sempre despertou um grande interesse, principalmente por fanáticos religiosos, comerciantes, políticos, cientistas e militares, com a finalidade de influenciar um grande número de pessoas para que, de maneira inconsciente, passassem a adotar determinadas condutas pré-determinadas. Tal possibilidade poderia trazer benefícios fantásticos aos manipuladores de desejos e sentimentos com a implantação de novos costumes e desejos, além da possibilidade, desta vez benéfica, de influenciar na cura de determinadas doenças ou desequilíbrios emocionais.

– Mas o que vem a ser mensagem subliminar? Veja a definição dada pelo pesquisador e escritor Joan FERRES (1998, pg. 14) [2]:


“Considera-se subliminar qualquer estímulo que não é percebido de maneira consciente, pelo motivo que seja: porque foi mascarado ou camuflado pelo emissor, porque é captado desde uma atividade de grande excitação emotiva por parte do receptor, porque se produz uma saturação de informações ou porque as comunicações são indiretas e aceitas de maneira inadvertida.”


– Neste sentido existem referencias históricos. O escritor Bryam KEY afirma que a percepção subliminar já era citada por Demócrito (400 a.C.), além de Platão e Aristóteles. Em obras medievais e modernas é possível encontrar a existência de enxertos subliminares e em algumas com um forte apelo sexual enxertado conscientemente ou inconscientemente pelo artista. Modernamente, nas propagandas dos grandes trustes comerciais, já foi confirmada a presença de subliminares com a finalidade de induzir pessoas ao consumo de determinados produtos.

– Apesar de muitos estudiosos negarem, estrategicamente ou não, a existência das técnicas subliminares, há denúncias de que novos métodos estão sendo desenvolvidos e outros continuam sendo estudados ou aperfeiçoados, sempre com a finalidade, precípua, de influenciar a mente via subconsciente, de despertar desejos de consumo exacerbado, produzir desejos eróticos e, porque não, até a possibilidade de insuflar ódios e descontentamentos contra grupos sociais minoritários da sociedade. Esta possibilidade seria a alegria dos déspotas, dos tiranos e de muitos políticos seguidores de Maquiavel. Inclusive, diga-se de passagem, os cientistas de Adolf Hitler já estudavam essas técnicas de comunicações subliminares[3] para fortalecer ainda mais o poder da ideologia do Nacional Socialismo sobre o povo germânico e disseminação do Nazismo pelo mundo.

– Na internet há dezenas de sites, com depoimentos de autoridades, jornalistas, cientistas, e livros, como o do escritor BRYAN[4], FERRÉS[5] e CALAZANS[6]. Todos alertando sobre o uso maléfico dessas técnicas e, obviamente, na contramão, outros tantos, conforme já citado acima, negando a possibilidade de sucesso de que esses métodos teriam realmente a capacidade de manipular o subconsciente de uma pessoa.

– Se não há efeitos substanciais no comportamento das pessoas, seria pura burrice e perda de tempo a utilização desses mecanismos subliminares para influenciar consumidores na compra de produtos e de outros objetivos espúrios. Então, porque será que muitas empresas continuam a utilizar de enxertos subliminares em suas propagandas?

– Acreditando na existência de subliminares ou não, a realidade é que vários países já criaram legislações impedindo, ou dificultando o seu uso. Se isso é uma paranóia, não haveria motivos para maiores preocupações por parte das autoridades governamentais.

– Nesse sentido, vejamos o que diz a Lei portuguesa nº 58/90 de 07/09/1990, a qual versa sobre o Regime da Atividade de Televisão:


Art. 27 – Identificação da publicidade:

1 – A publicidade difundida através da televisão deve ser facilmente identificável como tal, e claramente separada dos programas, por meios ópticos ou acústicos,

2 – É proibida a publicidade subliminar,

3 – [..]. (grifo nosso)


– No mesmo sentido, a Lei portuguesa nº 8/89/M, de 4 de setembro de 1989, regulamenta o Regime da Atividade de Radiodifusão, expõe a preocupação com formas subliminares. Transcrevemos o artigo:


Art. 56 (Publicidade proibida)

1. É proibida a transmissão de publicidade que, através de artifícios, formas subliminares ou meios dissimuladores, induza em erro ou influencie os destinatários sem que estes se possam aperceber da natureza da mensagem transmitida. (grifo nosso)


– Já o Decreto Lei 330/90 de 23/10/1990 – Código da Publicidade[7] – regulamenta a publicidade que se utiliza de enxertos subliminares. Vejamos:


Art. 9º – Publicidade oculta ou dissimulada

1 – É vedado o uso de imagens subliminares ou outros meios dissimuladores que explorem a possibilidade de transmitir publicidade sem que os destinatários se apercebam da natureza publicitária da mensagem.

2 – […]

3 – Considera-se publicidade subliminar, para os efeitos do presente diploma, a publicidade que, mediante o recurso a qualquer técnica, possa provocar no destinatário percepções sensoriais de que ele não chegue a tomar consciência. ( Grifo nosso)


– Por esse caminho, pela Lei 34/88, Geral de Publicidade da Espanha (Ley General de Publicidad)[8], de 11 de novembro 1998, a propaganda subliminar é tida como publicidade ilícita, conforme aduzido seu artigo 2º e no artigo 7º traz a definição:


A los efectos de esta Ley, será publicidad subliminal la que mediante técnicas de producción de estímulos de intensidades fronterizas con los umbrales de los sentidos o análogas, pueda actuar sobre el público destinatario sin ser conscientemente percibida“.


– Convém deixar bem frisado que algumas leis, aqui mencionadas, já podem ter sido revogadas ou modificadas, pois há muitos interesses em jogo nos países capitalistas globalizados, capitaneados pela ideologia neoliberalista e sob a influência de poderosos trustes econômicos. O importante é que, em algum momento, políticos e governos mantiveram algum tipo de preocupação com a possibilidade do uso dessas técnicas subliminares de maneira ilícita.

– No Brasil houve uma tentativa de um projeto de Lei nº 5.047/2001, do deputado João Hermann, que pretendia alterar o Código de Defesa do Consumidor (CDC) para vedar a veiculação de enxertos subliminares, o qual, pelo visto, não foi aprovado e, mais recentemente, o projeto nº 4.068/2008, de autoria do deputado Walter Brito Neto[9], o qual visará coibir o uso de mensagens subliminares em propagandas de produtos e serviços. Como aqui tudo é um jogo de interesses e a corrupção é uma marca ideológica com raízes seculares, é lógico que a probabilidade desse projeto de não ser aprovado é alto. Na verdade um paraíso para os que estão a profligar em uma sociedade de conhecimento vulgar controlado pelos meios de comunicações.

– Mas nem tudo está perdido para os que acreditam em subliminares. O Código de Defesa do Consumidor em seus artigos 36 e 37, omite a palavra subliminar, mas, a nosso ver, é perfeitamente aplicável em caso de propaganda oculta, sem ser perceptível conscientemente pelo consumidor, sujeito a aplicação das sanções penais previstas no CDC. No entanto, por via das dúvidas, seria interessante que a lei fosse modificada, acrescentando a ilicitude dos enxertos subliminares para ficar bem mais explicito.

– Por esse caminho defensivo, existe a ONG de Estudos e Pesquisas em Mensagem Subliminar que, além das pesquisas, recebe denúncias e tem ingressado com várias ações competentes na Justiça brasileira contra os diversos tipos de abusos subliminares. Já promoveu uma ação contra o ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, por fazer apologia ao uso da maconha no videoclipe da música “Kaya N’Gan Daya” e nas capas do CD e DVD de mesmo título[10].

– É interessante citar que nas eleições de 2006, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), deixou cristalizado a sua preocupação em impedir que candidatos de má índole se utilizassem de enxertos subliminares. Vejam o teor do artigo da Resolução do TSE:


Art. 64. No horário reservado para a propaganda eleitoral, não se permitirá utilização comercial, ou seja, propaganda realizada com a intenção, ainda que disfarçada ou subliminar, de promover marca ou produto (Res.-TSE nº 21.078, de 23.4.2002).


– É bom lembrar que em 4 de novembro de 2002[11], o Exmo. Sr. Dr. Juiz da 12ª Vara Cível da Comarca de São Paulo, determinou através de liminar, que a MTV retirasse uma vinheta do ar por conter enxertos subliminares sadomasoquistas[12].

– Já o Exmo. Sr. Juiz de Direito da 4ª Vara Cível de Brasília, em 2006[13], sentenciou o pagamento de quatorze milhões por danos morais difusos pela utilização de técnicas subliminares por parte das empresas Souza Cruz S/A, Standart Ogilvy & Mather Ltda e Conspiração Filmes e Entretenimento S/A.

– A nível internacional, a própria Disney já admitiu a existência de subliminares em seus desenhos. Temos o caso noticiado pela Folha de São Paulo de 15 de janeiro de 1999, sobre o desenho animado “Bernardo e Bianca”, no qual havia um enxerto subliminar de uma mulher nua. A Disney teve que recolher mais de três milhões de fitas do mercado após as denúncias.

– Até mesmo o “Senhor da Guerra”, Bush (aquele que, por estes dias, no Iraque, foi chamado de cachorro e recebeu uma sapatada de um jornalista iraquiano pelo deboche e cinismo), já foi acusado de utilizar-se de enxertos subliminares, de acordo com informações divulgadas pela renomada agência de noticias Reuters. Tais informações também foram divulgadas pelos jornais O Estado de São Paulo (13 de setembro de 2000) e Folha de São Paulo (13 de setembro de 2000).

– Para complementar, vejam o caso do desenho animado Pokemon, em 1997, no Japão, em Tóquio, que foi pouco divulgado pela mídia, mas o estrago foi grande. Os desenhos do Pokemon[14] foram lançados em dezenas de canais de TV. As crianças que assistiram os desenhos, as centenas, foram parar em hospitais, todas com os mesmos sintomas. Foi diagnosticada epilepsia fotossensível. Seria apenas coincidência?

– Mesmo que alguns neguem a potencialidade ou a existência dos enxertos subliminares, as provas vão se acumulando dia após dia. A justiça vem aceitando ações contra empresas que se utilizam dessas técnicas de maneira nociva e projetos de lei vão sendo propostos por políticos honestos e competentes (poucos), com a finalidade de dar uma maior proteção ao povo em geral e, principalmente, às crianças, as quais são os alvos preferenciais de muitos trustes comerciais internacionais e nacionais.

– Pelo exposto, e até prova em contrário definitiva, queremos acreditar que tudo isto não deve de ser um simples delírio paranóico, lenda urbana, conto da carochinha ou algo ligado aos adeptos da “Teoria da Conspiração”, bem como conspirações de extraterrestres oriundo de Marte. De qualquer maneira, acreditando ou não, existem governos, organizações não governamentais e até mesmo algumas religiões protestantes preocupados com essas técnicas manipuladoras. Todos alertando, todos fazendo denúncias das ilicitudes e criando obstáculos legais às técnicas ilícitas subliminares.

– Portanto, é interessante observar que a maioria das mídias televisivas silenciam sobre o assunto. Qual a razão desse silêncio? Não é preciso uma bola de cristal para a resposta. A resposta é obvia.

– De qualquer maneira, uma coisa é certa: ainda existem muitas dúvidas a serem esclarecidas, mas seria necessário que se tivesse uma legislação mais rígida para punir, rigorosamente, os que, de maneira criminosa, se utilizam das técnicas subliminares em propagandas comerciais, em filmes, em desenhos infantis, em novelas, nas músicas e nos diversos programas fúteis, os quais, convêm deixar frisado, independente da inserção dos enxertos subliminares, já induzem, de maneira intencional, o telespectador a desenvolver um conhecimento vulgar (senso comum), além de possibilitar, pela indução, pela imitação, pela instigação e pelo contágio a atos criminosos, principalmente entre adolescentes.

– Portanto, toda a atenção é necessária, principalmente, ao conteúdo das programações daquele objeto que ocupa um lugar de honra dentro das nossas residências: o aparelho de televisão. É através dele que, com enxertos subliminares ou sem eles, tentam impor as suas ideologias, mudando costumes e impondo outros tantos, ora para o bem, ora para o mal.

– Uma coisa é certa: temos que auferir forças internas justas e perfeitas para mantermos o controle das nossas mentes, sermos donos das nossas consciências e impedir que sejamos manipulados por interesses ignóbeis de determinadas organizações, muitas das quais, pactuados com máfias internacionais, as quais se agigantaram ainda mais com o fim da guerra fria. Todo o cuidado é pouco e principalmente para com crianças e adolescentes.

– Enfim, é somente através da aquisição de intensos conhecimentos, da pesquisa, da comprovação e de um senso critico desenvolvido é que poderemos nos vacinar contra a influência de mensagens subliminares utilizadas nocivamente e de outras mensagens, estas sim, bem mais explícitas, as quais contaminam diretamente, milhares de mentes no Brasil e no mundo. Muitas dessas mídias de comunicação e em especial a TV, estão a induzir muitos para a criminalidade, implantam novos costumes nocivos, influenciam a adoção de posturas ideológicas discriminatórias, limitam a liberdade e a racionalidade sem a necessidade de técnicas subliminares. Estejamos todos atentos!



[1] Mensagem Subliminar. <http://www.hipnoseeletargia.com.br/men_sub.asp>. Acesso em 13.11.2008.

[2] FERRÉS, Joan. Televisão subliminar – Socializando através de Comunicações Despercebidas. Porto Alegre. Ed. ArtMed, 1998.

[3] Radiobras. Nazismo lançou as técnicas da propaganda subliminar – Disponível em: <http://www.radiobras.gov.br/ct/2000/materia_081200_3.htm>. Acesso em 02.12.2008.

[4] BRYAN key, Wilson. A Era da Manipulação. 2ª ed.. S P. Ed. Scritta.

[5] FERRÉS, Joan. Televisão subliminar – Socializando através de Comunicações Despercebidas. Porto Alegre. Ed. ArtMed, 1998.

[6] CALAZANS, Flávio. Propaganda subliminar multimídia. São Paulo: Summus, 1992.

[7] Código da Publicidade. <http://www.aacs.pt/legislacao/codigo_da_publicidade.htm>. Acesso em 11.12.2008.

[8] Ley General de Publicidad. <http://civil.udg.edu/normacivil/estatal/contract/Lgp.htm>. Acesso em 11.12.2008.

[9] NOELI, Nobre. Mensagem subliminar poderá ser proibida em propagandas <http://www2.camara.gov.br/internet/homeagencia/materias.html?pk=128294>. Acesso em 14.11.2008.

[10] Consultor Jurídico. <http://www.conjur.com.br/static/text/23166,1>. Acesso em 20.11.2008.

[11] CALAZANS, Flávio. Subliminar em vinheta na MTV. http://www.calazans.ppg.br/miolo02_06.htm – Acesso em 20.11.2008.

[12] Consultor Jurídico. <http://www.conjur.com.br/static/text/23166,1>. Acesso em 20.11.2008.

[13] Direito 2. TJDFT: Propaganda subliminar gera indenização de R$ 14 milhões.
<
http://www.direito2.com.br/tjdf/2006/mar/3/tjdft-propaganda-subliminar-gera-indenizacao-de-r-14>. Acesso em 20.11.2008.

[14] CALAZANS, Flávio. <http://www.calazans.ppg.br/c_pok.htm>. Acesso em 20.11.2008.

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UMA LEI JUSTA E PERFEITA PARA UM ATENDIMENTO JUSTO E PERFEITO

– Com o aumento desenfreado das faculdades de Enfermagem e de Medicina (hoje em torno de 167 cursos de Medicina), essas Instituições de Ensino Superior (IES) passam a lançar, anualmente, milhares de médicos e enfermeiros, muitos dos quais, infelizmente, despreparados para o mercado de trabalho. Fica evidenciado assim a qualidade ruim do ensino de várias Instituições de Ensino Superior (IES), as quais, pelo visto, visam apenas o lucro em detrimento da boa formação profissional.

– Além do mais, para os bacharéis da Medicina, em sua maioria, terão grandes dificuldades de realizar a residência médica, entretanto, irão clinicar assim mesmo. Uma coisa é certa: estarão infernizando a vida de milhares de brasileiros com diagnósticos errados. Estarão a proporcionar, através da negligência, da imprudência, da imperícia, da ganância por lucros fáceis e da desumanização exacerbada, o aumento das ações judiciais de indenização civil integral, indenização material, indenização extrapatrimonial, indenização por dano estético, indenização pela perda de uma chance de cura (ação um tanto insipiente em nosso ordenamento jurídico indenizatório, mas com tendência a ser adotado), ações indenizatórias por atos de iatrogênia e ações por dano moral puro. Ações que, em caso de sentenças definitivas a favor das vitimas, terão apenas o condão de atenuar, de reparar, se possível, as seqüelas físicas ou morais que as vitimas terão que carregar pelo resto de suas vidas, muitas vezes causadas por erros crassos.

– Por tudo isto e por muito mais é que o governador do Estado de Roraima sancionou a Lei 687 de 17 de outubro de 2008, aprovada pela Assembléia Legislativa, que fortalece os direitos do paciente para um atendimento mais humano e mais justo.

– É mais uma ferramenta jurídica à disposição daqueles que serão ultrajados em sua dignidade, em sua honra, em um momento de maior necessidade na busca da cura das suas patologias e, além do mais, a doença não marca hora, dia, mês e ano para agir.

– Os hospitais privados e públicos com as suas equipes de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem) deverão de estar sempre prontos para o atendimento de qualidade, sempre dentro dos princípios da ética, da moral, do humanismo e do holismo.

– Infelizmente para muitos profissionais da saúde, bem como para alguns estabelecimentos privados e públicos de saúde, não é exatamente assim que acontece, portanto a necessidade premente desta lei para disciplinar o atendimento dos direitos do paciente e assegurar um atendimento mais justo e perfeito.

Os prejudicados fisicamente e moralmente devem de ter sempre em mente as palavras do jurista e corifeu Ihering: “A LUTA PELO DIREITO É UM DEVER DO INTERESSADO PARA CONSIGO PRÓPRIO”.

– Vejam a lei estadual aduzida abaixo e tirem suas próprias conclusões.

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LEI Nº 687 DE 17 DE OUTUBRO DE 2008.

PUBLICADO NO D.O.E, Nº 928, DE 20/10/08

“Dispõe sobre a cartilha dos Direitos do paciente.”

O GOVERNADOR DO ESTADO DE RORAIMA:

Faço saber que a Assembléia Legislativa aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei institui a Cartilha dos Direitos dos Pacientes nos seguintes termos:

I – todo paciente tem direito a atendimento humano, atencioso e respeitoso, por parte de todos profissionais de saúde, bem como, a um local digno e adequado para seu atendimento;

II – o paciente tem direito a ser identificado pelo nome e sobrenome, não devendo ser tratado pelo nome da doença ou do agravo à saúde, ou ainda de forma genérica ou quaisquer outras formas impróprias, desrespeitosas ou preconceituosas;

III – o paciente tem direito ao auxílio imediato e oportuno para a melhoria de seu conforto e bem estar, por parte do funcionário que está fazendo o atendimento;

IV – o paciente tem direito a identificar o profissional por crachá, com o nome completo, função e cargo;

V – o paciente tem direito a consultas marcadas, antecipadamente, de forma que o tempo de espera não ultrapasse trinta minutos;

VI – o paciente tem direito de exigir que todo o material utilizado seja rigorosamente esterilizado ou descartável e manipulado segundo normas de higiene e prevenção;

VII – o paciente tem direito de receber explicações claras sobre o exame a que vai ser submetido e para qual finalidade será coletado o material para exame de laboratório;

VIII – o paciente tem direito a informações claras, simples e compreensíveis, adaptadas à sua condição cultural, sobre as ações diagnosticadas e terapêuticas, e o que pode decorrer delas, a duração do tratamento, a localização de sua patologia, se existe a necessidade de anestesia, qual o instrumental a ser utilizado e quais regiões do corpo serão afetadas pelos procedimentos;

IX – o paciente tem direito a ser esclarecido se o tratamento ou diagnóstico é experimental ou faz parte de pesquisa, bem como, se os benefícios a serem obtidos são proporcionais aos riscos e se existe probabilidade de alteração das condições de dor, sofrimento e desenvolvimento da sua patologia;

X – o paciente tem direito de consentir ou recusar ser submetido à experimentação ou pesquisas;

XI – no caso de impossibilidade de expressar sua vontade, o consentimento deve ser dado por escrito por seus familiares ou responsáveis;

XII – o paciente tem direito a consentir ou recusar procedimentos, diagnósticos ou terapêuticas a serem nele realizados e deve consentir de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequadas informações;

XIII – quando ocorrem alterações significativas no estado de saúde inicial ou da causa pela qual o consentimento foi dado, este deverá ser renovado;

XIV – o paciente tem direito de renovar o consentimento anterior, a qualquer instante, por decisão livre, consciente e esclarecida, sem que lhe sejam imputadas sanções morais ou legais;

XV – o paciente tem direito de ter seu prontuário médico elaborado de forma legível e de consultá-lo a qualquer momento;

XVI – o paciente tem direito a ter seu diagnóstico e tratamento por escrito, identificado com o nome do profissional de saúde e seu registro no respectivo Conselho Profissional, de forma clara e legível;

XVII – o paciente tem direito de receber desde medicamentos básicos, a medicamentos e equipamentos de alto custo, que mantenham a vida e saúde;

XVIII – o paciente tem direito de receber os medicamentos acompanhados de bula, impressa de forma compreensível e clara, com data de fabricação e prazo de validade;

XIX – o paciente tem direito de receber as receitas com o nome genérico do medicamento (Lei do Genérico) e não em código, datilografadas, em letras de forma ou com caligrafia perfeitamente legível e com assinatura e carimbo contendo o número do registro do respectivo Conselho Profissideonal;

XX – o paciente tem direito de conhecer a procedência e verificar, antes de receber sangue ou hemoderivados para a transfusão, se o mesmo contém carimbo nas bolsas de sangue atestando as sorologias efetuadas e sua validade;

XXI – o paciente tem direito, no caso de estar inconsciente, de ter anotado em seu prontuário medicação, sangue ou hemoderivados utilizados, com dados sobre a origem, tipo e prazo de validade;

XXII – o paciente tem direito de saber, com segurança e antecipadamente, através de testes ou exames, que não é diabético, portador de algum tipo de anemia ou alérgico a determinados medicamentos (anestésicos, penicilina, sulfas, soro antitetânico, etc.), antes de lhe serem administrados;

XXIII – o paciente tem direito a sua segurança e integridade física nos estabelecimentos de saúde, públicos ou privados;

XXIV – o paciente tem direito ao acesso às contas detalhadas referentes às despesas de seu tratamento, exames, medicação, internação e outros procedimentos médicos. (Portarias do Ministério da Saúde nº 1286, de 26 de outubro de 1993 – art. 8º; e nº 74, de 04 de maio de 1994);

XXV – o paciente tem direito de não sofrer discriminação nos serviços de saúde por ser portador de qualquer tipo de patologia, principalmente no caso de ser portador de HIV/AIDS ou doenças infectocontagiosas;

XXVI – o paciente tem direito de ser resguardado de seus segredos, através da manutenção do sigilo profissional, desde que não acarrete riscos a terceiros ou à saúde pública;

XXVII – os segredos do paciente correspondem a tudo aquilo que, mesmo desconhecido pelo próprio cliente, possa o profissional de saúde ter acesso e compreender através das informações obtidas no histórico do paciente, exames físicos, exames laboratoriais e radiológicos;

XXVIII – o paciente tem direito a manter sua privacidade para satisfazer suas necessidades fisiológicas, inclusive alimentação adequada e higiênica, quando atendido no leito, no ambiente onde está internado ou mesmo onde aguarda atendimento;

XXIX – o paciente tem direito a acompanhante, se desejar, tanto nas consultas, como nas internações;

XXX – as visitas de amigos e parentes devem ser disciplinadas em horários compatíveis, desde que não comprometam as atividades médico/sanitárias, e, no caso de parto, a parturiente poderá solicitar a presença do pai;

XXXI – o paciente tem direito de exigir que a Maternidade, além dos profissionais comumente necessários, mantenha a presença de um neonatologista, por ocasião do parto;

XXXII – o paciente tem direito de exigir que a Maternidade realize o “teste do pezinho”, para detectar fenilcetonúria nos recém-nascidos;

XXXIII – o paciente tem direito à indenização pecuniária, no caso de qualquer complicação em suas condições de saúde motivada por imprudência, negligência ou imperícia dos profissionais de saúde;

XXXIV – o paciente tem direito à assistência adequada, mesmo em períodos festivos, feriados ou durante greves profissionais;

XXXV – o paciente tem direito de receber ou recusar assistência moral, psicológica, social e religiosa;

XXXVI – o paciente tem direito a uma morte digna e serena, podendo optar ele próprio (desde que lúcido), a família ou o responsável por local, acompanhamento, bem como, o uso de tratamentos dolorosos e extraordinários para prolongar a vida;

XXXVII – o paciente tem direito à dignidade e respeito, mesmo após a morte, e os familiares ou responsáveis devem ser avisados imediatamente após o óbito; e

XXXVIII – o paciente tem o direito de não ter nenhum órgão retirado de seu corpo, sem sua prévia aprovação.

Art. 2º É obrigatória a afixação desta Lei como a Cartilha dos Direitos do Paciente na recepção dos hospitais.

Art. 3º As despesas decorrentes da aplicação desta Lei correrão á conta do Fundo Estadual de Saúde.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio Senador Hélio Campos/RR, 17 de outubro de 2008.

JOSÉ DE ANCHIETA JUNIOR

Governador do Estado de Roraima

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MANTER SOB O CONTROLE OS EXCLUÍDOS – NÃO IMPORTA OS MEIOS

– Algumas pessoas, imbuídas com verdadeiro sentimento de justiça e humanismo, procuram sempre denunciar as mazelas criadas no decorrer da história dos povos, pois muitos dos problemas sociais gravíssimos que afetam a nossa sociedade moderna são simplesmente os efeitos dos atos realizados pelos dominadores criminosos do passado e aperfeiçoado pelos seus seguidores no presente.

– Neste sentido, esta semana, li uma reportagem da Dra. Vera Malaguti Batista, Mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense, Doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professora de Criminologia, da Universidade Cândido Mendes, e Secretária geral do Instituto Carioca de Criminologia.

– Por ser uma matéria muito elucidativa transcrevi a mesma para este blog, apesar de ter sido realizada em 2007. As verdades contidas na entrevista da Dra. Malaguti não estão imersas em um senso comum. Continuam atualíssimas e proféticas.

– Por este viés, é interessante verificar como a população vai sendo ludibriada, enganada, empulhada ao escamotearem criminosamente a verdadeira situação social em tempos globalizados. É interessante observar como a população de senso comum vai sendo direcionada para aceitar um pensamento padrão imposto pelo quarto poder (principalmente a televisiva) com relação à criminalidade, pois poucos são os que se atrevem a perguntar quais são as causas que estão a gerar tanta iniqüidade dentro do Estado, bem como, quais são as causas da criminalidade desenfreada entre os excluídos, os quais não passam, na visão globalizada, de uma espécie de sobra de mão de obra barata e desqualificada existente nas favelas e periferias das grandes cidades.

– Nas entrelinhas da entrevista concedida pela Dra. Malaguti ao Jornal “A Nova Democracia”, tem-se a impressão real de que um apartheid ignóbil está se formando e sendo aperfeiçoado, diariamente, pelos verdadeiros donos do poder, os quais se utilizam de estratégias e manobras de controle social previamente estudadas e forjadas a ferro e fogo que serão utilizadas pelas marionetes serviçais da Globalização, do Consenso de Washington, Bush etc.

– Façam a leitura e tirem as suas próprias conclusões.

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Entrevista: Vera Malaguti Batista – Insânia, anarquia e Estado policial

Depoimento a José Ricardo Prieto e Igor Chaves

Nesta oportunidade, a Dra. Vera dá um depoimento sobre a atual situação de crescentes e constantes ataques do aparato repressivo do Estado às populações empobrecidas das grandes cidades, particularmente no Rio de Janeiro, onde se efetua a “limpeza” da cidade para o Jogos Pan-americanos.

Tem havido uma apropriação e uso da dor dos pais, a exploração da dor para produção de mudanças penais. O exemplo mais recente é o caso trágico do menino João Hélio Fernandes. Quando eu falo nesse caso, tento explicar que tem tragédia nas duas pontas: com a família da vítima e com as famílias dos meninos que o mataram.

O que se tem denominado de “populismo criminológico” é a utilização das emoções do discurso da vítima. Quem faz as mudanças na legislação penal não são mais os juristas, nem os criminólogos, mas a grande imprensa trabalhando a utilização intensiva da dor das vítimas.

Mercadoria: o pânico

Assim sendo, essas vitimas começam a propor mudanças no sentido de um endurecimento das penas da repressão. Um fenômeno justo, uma dor legítima (sentimento de mãe, de família), acaba se tornando um bom mecanismo político para conseguir emplacar coisas inexistentes anteriormente. É algo bem mais perverso, já que os pais que acabaram de perder o filho estão em um estado emocional muito ruim e, ao mesmo tempo convencidos de que é preciso fazer alguma coisa imediatamente.

Esse modelo começou a aparecer na imprensa depois do assassinato da Daniela Perez (filha da autora de novelas da Globo, Glória Perez). E acontece sempre que as vítimas são brancas, da “classe média”. Talvez, se nós tivéssemos conversado com os parentes dessas 17 pessoas assassinadas na Vila Cruzeiro, as propostas deles seriam diferentes.

Vou dar um exemplo para salientar isso: na Argentina tem um pai de vítima que quer ser candidato a presidente. Claro que sua plataforma é a do endurecimento punitivo.

Isso é uma estratégia do capitalismo central de fazer o controle social da juventude através da punição, da pena e também pelo controle da mão de obra que está sobrando, de populações que não tem outro projeto, apenas o penal. A associação do poder punitivo no controle do exército industrial de reserva oscila de acordo com a ocasião. Em períodos em que sobram braços, o direito penal e o poder punitivo tem de ser mais truculento. Em contrapartida, quando falta braço, aparecem os discursos liberais.

O que eu acho interessante é como esse projeto se expandiu a partir da implantação do neoliberalismo, a internalização da vontade de punir, ou seja, da subjetividade. Os grandes meios de comunicação trabalham isso o tempo todo, as emoções das pessoas. Até teve uma trágica discussão acadêmica e, como pivô, um artigo do Renato Janine Ribeiro, diretor de avaliação do CAPES*, publicado na Folha de São Paulo. Ele defendia que não bastava pena de morte e que tinha que haver mais sofrimento e dor. Ele defendia a emoção linchadora.

Aí vem a pergunta: Para que serve a academia se não é para fazer uma reflexão fora desse senso comum criminológico?

Os intelectuais que antes eram críticos, hoje são especialistas em segurança pública, têm um contrato para suas ONGs, por onde ingressam na assistência social do Estado. De 20 anos para cá essa política punitiva foi tão destilada gota a gota na novela, no intervalo, no futebol, que as pessoas estão empenhadas em acreditar que somente a pena vai resolver a conflitividade social brasileira.

Temos percebido até movimentos sociais exigindo esse tipo de punição! A academia está virando um mercadão de consultoria para os governos estaduais. Pessoas que há 30 anos defendiam a anti-truculência hoje pensam numa maneira do “caveirão” (veículo blindado da Polícia Militar do Rio de Janeiro) entrar na favela, casos técnicos.

A Polícia sabe melhor do que ninguém como realizar essas ações. Ela é atirada para esses papéis. Os trabalhadores da segurança pública, das polícias, que tem uma origem semelhante aos “inimigos”, ao que estão enfrentando, também estão sendo jogados num processo de barbarização. Em 30 de maio morreu um tenente da polícia, aqui, em Santa Tereza. Um tenente é um profissional da polícia que recebe todo um investimento em formação. Como é que ele pode estar tão vulnerável numa operação corriqueira?

Os familiares dos trabalhadores da segurança pública são levados a achar que a polícia mais armada, mais truculenta, vai ser fortalecida. Nunca morreu tanto policial como atualmente.

Assassinato agora é estresse

Em uma entrevista, o governador Sérgio Cabral defende a truculência pela truculência, porque a operação na Vila Cruzeiro, por exemplo, não tem sentido nem para a segurança pública nem para o “combate ao tráfico de drogas”.

Aí ele diz: “não, nós temos que fazer o enfrentamento”. Cinco escolas da região estão fechadas há mais de um mês. É um campo de concentração. Para que isso? Eu já vi as principais autoridades de segurança pública do Rio de Janeiro falando das baixas como se fosse um pesar, ou seja, o extermínio como se fosse um “estresse”. Eu queria ver estresse no Leblon, bairro onde o governador reside. É um local cheio de pessoas que cometem infrações desde o uso de drogas à sonegação do imposto de renda. Queria ver um tipo de operação no Leblon em que o comércio tivesse que fechar, que escolas todas fechassem, que morressem 17 pessoas em um mês. Inconcebível, não é?

Entretanto, ao ser indagado sobre a descriminalização das drogas, o governador se diz favorável. O engraçado é que ele diz que é contra ação anti-droga, mas enquanto existir ele vai ser o mais duro possível. É a manutenção da ordem escravocrata. A impressão que eu tenho é que a Zona Sul do Rio gosta da truculência.

Tudo piorou desde o governo Marcelo Alencar, depois no Garotinho, no governo Benedita, na Rosinha e agora com o Sérgio Cabral, com a aplicação da política da truculência. Eu me apavoro é com essa coisa que começou nos anos 80, que é a disseminação de uma cultura punitiva. Essa subjetividade legitima a política de expansão do poder penal do neoliberalismo, que é o controle social pela força dos grupos.

No USA os perseguidos são os latino-americanos, os “afro-americanos”, os árabes. Na Europa, são os imigrantes ilegais e no nosso caso é a mesma clientela de sempre.

Senha: mais rigor

A lógica do sistema penal é basicamente essa: seletividade das classes “perigosas”. Com isso, acabou se botando lenha na estratégia principal de controle do neoliberalismo: mais rigor. A truculência nesses anos todos produz uma barbarização da polícia, sendo ela obrigada a se jogar em uma comunidade para matar e, por outro lado, servir de bucha para políticos aparecerem.

É a pele desses policiais que estão no front e não os “policiólogos”, nem os políticos que querem trabalhar a dor como mercadoria política. A truculência virou uma mercadoria vendida pelos candidatos que disputam quem consegue eliminar mais.

A “esquerda” se afastou das classes populares, da periferia. Ela passou a ter um discurso para a pequena burguesia, um discurso moral. Deixou de perceber o que está acontecendo e está falando sozinha. Eles não sobem o morro.

Há um projeto notório de limpeza social, criando assim uma ilha da fantasia. Deixa uma parte da cidade lustrosa. Então, o Pan é um grande momento de uma “pacificação truculenta”, que não vai dar certo. Esse cotidiano criado na Vila Cruzeiro pode fazer bem para a atual geração de crianças?

Essa cultura da truculência se descolou até da perspectiva do resultado prático. Na visão deles tem que ter o enfrentamento. Mas por quê? Melhorou? Os jornais todos têm divulgado que os índices de ocorrência aumentaram. Criou-se um mecanismo de neutralização psíquica em que as pessoas não se perguntam “para que matar tanta gente?”.

Estratégia imperialista

Nós experimentamos uma política de segurança pública guiada completamente pela política estadunidense, pela transformação da resolução dos conflitos urbanos em guerra. Essa política trata o adolescente infrator como se fosse um inimigo. Isso significa potencializam o direito penal do inimigo, uma estratégia para isso parece algo natural, uma tendência da direita explosiva mundial. Tem elaboração teórica, tem escolas de polícia fazendo treinamento e tem principalmente venda de equipamento. Desde armamento e consultorias policiais até algema eletrônica, blindagem.

Essas medidas têm por finalidade conter o crescimento do exército industrial de reserva. Antes, no liberalismo, em um momento, tinha a ilusão do pleno emprego. Hoje, não dá para todo mundo. Fecham-se as fronteiras da Europa, coloca-se um muro entre Israel e Palestina. A pobreza está sendo murada, incapacitada de se deslocar. Essa mesma lógica é aplicada às cidades. A periferia é transformada em campo de concentração, onde as pessoas não têm direito. A política criminal de drogas serve justamente para manter a guerra acesa o tempo todo.

Do outro lado há o modelo “Barra da Tijuca”, que é a sociabilidade de shopping. Essa fascistização é notória. Essa é uma estética de proteção. Assim, a garotada de “classe média”, “classe média alta”, também vai tendo uma vida de aquário em que o único contato que ela pode ter com a realidade é por intermédio de um assalto, furto, sequestro. Fora disso ela vai do seu carro para casa, aos estabelecimentos comerciais, o que faz com que a realidade seja mais apavorante.

O projeto principal nisso tudo é o controle da energia juvenil, impedindo sua circulação, sua melhor compreensão da realidade. Apesar dessa política, a juventude sempre resiste. Ela acaba indo intuitivamente à roda de samba, se organiza em movimentos estudantis…

Através da onda punitiva o sistema de controle social tem vários mecanismos: a prisão em expansão, a que empareda, a que propõe o mesmo isolamento do século XIX; as medidas alternativas que vão capilarizando em vez de discriminar onde se expande o poder penal; a transformação da periferia em campo de concentração, seja favela, seja periferia de São Paulo, seja Baixada Fluminense, seja Palestina, sejam os bairros africanos e árabes na Europa; a “medicalização” em massa e a vigilância (câmeras, etc.), tudo isso tem uma lucratividade enorme. Um setor econômico que está se expandindo, sem contar o controle ideológico que se mantém eficiente. Então, o que costura tudo isso é a internalização subjetiva da barbárie.

Fascismo declarado

Uma imagem de telejornal me chamou muito a atenção. Acontecia em um hotel de Copacabana um encontro internacional de delegados da Interpol. O local estava super policiado, com helicóptero etc. O repórter perguntou para uma moradora o que ela achava de todo esse aparato. Ela responde: “Tinha que ser assim todo dia”.

Enfim, as pessoas não se dão conta de que uma cidade que precisa de tanto policial, helicóptero, tanque para dar alguma segurança significa que alguma coisa está errada. Gastar muito com segurança pública é identificador de conflitividade social mal resolvida por outras instâncias. Quando você tem um Estado policial é porque se distorceu tudo. O que está acontecendo para que se tenha que gerir a luta de classes por esse meio policial? É um fascismo declarado.

Porém, a prisão é sempre seletiva. A primeira prisão brasileira era a prisão que tinha 95% de escravos. Ainda por cima tem o espetáculo da execução. O cara ainda está sendo investigado e já está sendo filmado. É todo um aparato para legitimar o poder penal.

Quanto mais justa uma sociedade, capaz de florescer os laços fraternos, menor é a necessidade de poder punitivo.

O que acontece por detrás dessas operações da Polícia Federal? Nós não sabemos. O que sabemos é que ninguém vai preso. Sempre quando houve escândalos como esse no Brasil, eram pontuais, não mexiam na estrutura. A figura do bode expiatório vai ser sempre utilizada nessas operações, muitas vezes pessoas desconhecidas na opinião pública, outras sem nenhuma ligação efetiva e são absolvidos. O que importa é o espetáculo, sem precisar mostrar o desfecho.

(Edição Impressa/Ano VI. nº 35, julho de 2007)

http://www.anovademocracia.com.br/


A Dra. Vera Malaguti se refere ao artigo Razão e sensibilidade, de autoria de Renato Janine Ribeiro, pu blicado na Folha de São Paulo em 18 de fevereiro de 2007. No referido artigo, o autor diz textualmente: “Se não defendo a pena de morte contra os assassinos, é apenas porque acho que é pouco. Não paro de pensar que deveriam ter uma morte hedionda, como a que infligiram ao pobre menino. Imagino suplícios medievais, aqueles cuja arte consistia em prolongar ao máximo o sofrimento, em retardar a morte. Todo o discurso que conheço, e que em larga medida sustento, sobre o Estado não dever se igualar ao criminoso, não dever matar pessoas, não dever impor sentenças cruéis nem tortura — tudo isso entra em xeque, para mim, diante do dado bruto que é o assassinato impiedoso.”

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OBS: Outras entrevistas com a Dra. Vera Malaguti Batista poderão ser encontradas nos seguintes site:

http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_entrevistas&Itemid=29&task=entrevista&id=12879

http://www.lafogata.org/06latino/latino6/br_25-2.htm

http://www2.flem.org.br/noticias/2004/02/25/fsp0300000020040225EntrevistaVeraMalaguti.htm

http://www.anovademocracia.com.br/

http://www.fazendomedia.com/novas/politica070806.htm

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SOCIEDADE CRIMINÓGENA II

                                                                          J. VILSEMAR SILVA
Especialista em Segurança Pública


“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem: não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim, sob aquelas com que se defrontam diretamente, ligadas e transmitidas pelo passado”. (karl Max)
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“Estamos a viver num mundo onde ninguém é livre, no qual dificilmente alguém está seguro, sendo quase impossível ser honesto e permanecer vivo.” George Orwell. The Road to Wigan Pier 
ROLETA RUSSA

– A violência pandêmica urbana das médias e grandes cidades vem atingindo níveis cada vez mais contundentes e estarrecedores. Em Boa Vista, capital do Estado de Roraima, a segurança está em um contínuo processo de degradação. Os políticos, de esquerda e de direita, muitos apenas demagogos, pouco fazem para reverter a situação, além de se aproveitarem desta conjuntura social degradante.
– O medo e a desconfiança são dominantes e estão refletidos nas residências das classes média e alta, transformadas em verdadeiros “bunkers”, com muros altos, alarmes eletrônicos, câmeras de segurança, cães de guarda, cercas eletrificadas e seguranças de empresas particulares. O óbvio fica explicito com relação à confiança depositada na segurança pública oferecida pelo Estado. E os bons cidadãos, pobres e miseráveis das periferias, como fica a segurança deles?
– Por este caminho, fica denotado que na nossa pequena capital a segurança é pífia com relação aos homicídios e latrocínios, os quais ocorrem, por coisas triviais, à luz do dia, em pleno centro e nos bairros, quase todos os dias e isto sem falar do trânsito com um percentual alto de condutores de veículos mal preparados que chacinam e mutilam diariamente.
– O Estado e os órgãos repressivos, lentos, enfraquecidos, e mal preparados para os modelos de prevencionismo moderno, fazem o que podem, mas os índices não diminuem. O pior é que empresas privadas de segurança aproveitam o filão de ouro e passam a ocupar as lacunas deixadas pelo Estado com a venda de proteção aos apaniguados da classe média alta e políticos de direita e da Nova Esquerda deletéria.
– O sistema prisional do Estado já atingiu o seu limite de encarceramento e cogita-se na construção de mais um presídio. A grande maioria dos encarcerados, não só em Roraima, mas em todo o Brasil, são jovens pobres, pardos, negros, miseráveis, analfabetos, muitos envolvidos com o narcotráfico, rotulados, etiquetados e posteriormente estereotipados como “olheiros”, “mulas”, “vapores”, aviões, “gerentes” etc. Após o cumprimento de suas penas, um percentual altíssimo volta a delinqüir de forma bem mais insidiosa e contundente. O pior é que essa situação não é inerente apenas a capital de Roraima, pois está refletida em todas as cidades do país de Norte a Sul, de Leste a Oeste, e em plena ascensão. 

OS FATORES CRIMINÓGENOS

– Afinal de contas, de quem é a culpa pela expansão descomunal da criminalidade? Seria exclusivamente dos criminosos que por livre arbítrio escolhem o caminho do crime? Seria dos políticos e governantes corruptos que se aproveitam da ignorância do povo e não combatem os fatores que levam ao crime? Seria do próprio povo, uma espécie de boiada mansa, movido pelo senso comum imposto? Seria da mídia, conhecida também como o quarto poder, a qual induz o povo a ter um determinado comportamento até mesmo com a utilização de enxertos subliminares[1]? Seria do modelo neoliberal, com a sua nova sociedade consumerista exacerbada e controlada por transnacionais que estão acima dos políticos? A culpa seria dos pardos, negros, prostitutas e índios, já que representam a maioria nos presídios?
– Vários são os paradigmas, rótulagem, etiquetagem, estereótipos e estigmas desenvolvidos pela sociedade elitizada dominante, nos últimos séculos, para com a classe mais pauperizada ou estigmatizada, principalmente para com os negros, os pardos e os índios. O reflexo dessa discriminação está refletida no cárcere, cadeia ou casa de detenção, denominado por BECCARIA de “a horrível mansão do desespero e da fome” [2], nas quais a maioria dos detentos pertence aos grupos citados. Só coincidência?
– Vamos abordar apenas alguns dos fatores criminógenos que influenciam no crescimento da criminalidade entre os grupos secularmente estereotipados pela rotulagem ou etiquetagem, e por uma questão de justiça, também será abordado alguns fatores criminais enraizados nas classes sociais mais abastadas, individualistas e elitizadas da moderna sociedade globalizada.
– De imediato podemos observar que as autoridades governamentais continuam insistindo em dar maior atenção aos efeitos criminógenos, enquanto que as causas exógenas[3], consorciadas com as causas endógenas[4], as quais ensejam o surgimento dos crimes através da indução, da imitação, das psicopatias, neuroses, fanatismo etc., são modestamente combatidas ou simplesmente ignoradas de acordo com os interesses circunstanciais do momento político ou econômico.
– Quais são essas causas (exógenas/endógenas)? Quais são as suas origens? O assunto é complexo, mas vamos descrever, sucintamente, apenas algumas dessas raízes ou vertentes que alimentam a criminalidade que está entranhada profundamente tanto nos governantes como nos governados.
– Várias são as origens históricas das causas criminógenas. Modernamente podemos citar que, com o advento da 3ª revolução industrial, nos últimos decênios, milhares de pessoas, desqualificadas tecnologicamente, abandonaram a área rural pela pressão de latifúndios nacionais e internacionais, sequiosos unicamente por lucros, pela monocultura predatória, pela mecanização e robotização da lavoura, pela falta de terras, pela falta de trabalho e de perspectivas de uma vida melhor. Esses fatores impulsionaram e impulsionam ainda o fenômeno da migração das famílias camponesas pobres em busca de novos horizontes mais promissores. O rumo tomado foi à direção do brilho enganoso das grandes cidades. Nas cidades ocorreu e continua ocorrendo a não adaptação de milhares de pessoas. Nas cidades, fatores sociais diversos e adversos, acabaram gerando a marginalização de milhões de seres humanos, bem como o surgimento das favelas e de bairros miseráveis, os quais acabam servindo aos interesses de justiceiros, narcotraficantes, grupos paramilitares (milicianos), de políticos oportunistas, comunistas e de direita, de caráter pérfido, de religiosos fundamentalistas e de dezenas de outros aproveitadores. Desse cadinho, agigantam-se, paulatinamente, os crimes contra a vida (humana/fauna/flora). A corrupção cria raízes profundas e, obviamente, os crimes contra o patrimônio público e privado não ficam de fora. Toda essa situação propicia um terreno muito fértil para os grupos citados, os quais estão a gerar outras dezenas de males e contaminando, de maneira insidiosa, a nossa democracia, a qual já não ocupa uma boa posição no ranking mundial[5] (42º entre 165 países), sendo considerada uma democracia imperfeita.

A COLHEITA

– Nesse sentido, algumas opiniões são marcantes e pessimistas com relação à qualidade de vida nesses grandes centros urbanos. Veja o pensamento do conhecido ator José WILKER ao falar das cidades:

“As maiores cidades brasileiras são grandes feridas sem cura provável a médio ou longo prazo. Em todas elas instalou-se o caos, uma desordem que, nem de longe, é semente que venha a produzir em um bom fruto. Segurança pública, saneamento básico, saúde, trânsito, tudo é uma imensa sucata. Temo que os próximos quarenta anos apenas agravem a atual situação” [6].
 
– É lastimável, mas a opinião acima não deixa de ter uma boa dose de realidade. Nas cidades existem centenas de bolsões de miséria. Nesses locais a promiscuidade com doenças sexualmente transmissíveis é crescente, a educação pública, caso exista, é de baixíssima qualidade, não existe saneamento básico, o qual está a gerar inúmeras doenças, a degradação ambiental é intensa e a inexistência de perspectivas para os mais jovens é um fato concreto. Nesses locais, o consumo de drogas lícitas (álcool), o consumo, comércio de drogas ilícitas (cocaína, crack, psicotrópicos, maconha transgênica etc.) e a desestruturação familiar são sintomas mais do que preocupantes, pois esses fatores ajudam a fomentar inúmeras ações criminosas. Ações estas que, na grande maioria, fogem do controle do Estado, gerando altíssimas cifras negras[7].
– Dos crimes que chegam ao conhecimento do Estado apenas uma parcela ínfima acaba sendo elucidada. Essa parcela ínfima, de acordo com alguns especialistas, é em torno de 2,5%[8]. Isto não é mostrado pelos governantes, na mídia oficial televisiva, por questões óbvias. É bom deixar explicito que os filhos de famílias abastadas também se envolvem com o uso e comércio de drogas e, sendo assim, há uma maior dificuldade de serem combatidos.
– Dentro da célula familiar a falta de conhecimentos gera a ignorância (mãe de todos os males), os bons costumes se pervertem e a moralidade entra em colapso pela má formação familiar. As virtudes viram moedas enferrujadas e sem valor. Os fatores que geram estas causas acabam ficando, hipocritamente, em segundo plano, induzindo a uma visão falseada da interpretação da verdadeira realidade social, principalmente pelos governados de senso comum que vêem apenas os efeitos criminógenos.
– Convém deixar frisado que algumas raízes criminógenas históricas são alimentadas pelo injusto modelo concentrador neoliberal capitalista brasileiro, aliado a um modelo de globalização totalmente insustentável para o planeta, o qual, diga-se de passagem, possui recursos limitados, ou seja, milhões de pessoas jamais terão acesso a esses recursos. Em contrapartida, esse modelo gera para alguns um enriquecimento descomunal, principalmente para banqueiros, narcotraficantes, políticos adeptos de Maquiavel, empresários de mau caráter, empresários da indústria de armamentos, igrejas etc.
– Com relação aos bancos, o iminente pesquisador e escritor Gustavo BARROSO já mostrava detalhes íntimos de fatores criminógenos da Monarquia, e posteriormente com a República, nas transações financeiras. Os banqueiros sempre foram protegidos pelos governantes (Recentemente o governo do sociólogo FHC socorreu, com dinheiro público, os bancos que estavam prestes a quebrar, socializando o prejuízo). Sempre foram favorecidos com juros escrachantes e aviltantes[9], além, obviamente, do contumaz, septicêmico e histórico desvio do erário público pela classe elitizada, através da corrupção[10] endêmica (uma das maiores do mundo) consorciada com a volúpia de ganhos fáceis, pela fraude através de atos infames, enriquecidos pela engenhosidade de burlar. Como esses fatores continuam entranhados nos bastidores do poder e acentuados nos últimos decênios, eles acabam ajudando a enfraquecer ou a maquilar o trabalho do Estado no combate às verdadeiras causas da criminalidade, pois é mais interessante combater, ilusoriamente, os efeitos criminógenos das classes sociais mais debilitadas e, de vez em quando, algemar (agora limitado) algum figurão[11] da alta sociedade, preferencialmente, com todos os holofotes midiáticos presentes para que o espetáculo circense destinado para os cidadãos de senso comum não pare. 

O ESTADO, OS POLÍTICOS, AS FAMÍLIAS, A SOCIEDADE

– O Estado vendo o crescimento descomunal do crime, numa tentativa paliativa de estancar a criminalidade crescente e organizada nas grandes cidades, cria novas legislações penais mais duras, as quais, infelizmente, não conseguem amainar o recrudescimento do crime e acabam ajudando, ainda mais, a “empilhar” somente seres humanos miseráveis, analfabetos, alguns até inocentes, e outros por crimes de bagatela, em presídios com chances mínimas de ressocialização, a não ser de se especializarem ainda mais no crime e no ódio. Obviamente para os criminosos das classes abastadas tudo fica mais fácil com a contratação de bons advogados para se livrarem ou de emperrarem processos que se arrastam por anos nas estâncias judiciárias superioras, além de conservarem todo ou parte do lucro do butim do erário público, das drogas, do descaminho etc. Sobra tempo até para alguns virarem políticos de esquerda ou de direita e conseguirem o fórum privilegiado.
– Entre as várias leis que buscam refrear o recrudescimento do crime, uma se destaca, pois foi criada pela boa sociedade e pela pressão internacional com precípuo de proteger crianças, adolescentes e amenizar a violência contra elas. O Estado promulgou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o qual possui, inquestionavelmente, dezenas de artigos extremamente importantes para a proteção do menor de idade, mas em contrapartida, o Estado é leniente para com a aplicação integral do texto, além de ser extremamente paternalista com menores de alta periculosidade.
– As conseqüências dessa leniência foram à permanência da prostituição infantil, do trabalho escravo, do abuso sexual, dos crimes contra o patrimônio e dos crimes contra a vida. Neste último quesito os infantes e adolescentes matam e morrem pela necessidade de sobrevivência ou movidos pelo ódio.
– Nessa degenerescência bárbara e estúpida, o Brasil prepara as levas de futuras gerações de brasileiros, pois os programas para eliminar as causas são deficitários na maioria das cidades brasileiras.
– Para alguns criminólogos, o ECA é uma falácia, já que as causas permanecem incólumes na grande maioria das cidades. Miguel Granato VELASQUEZ, Promotor de Justiça, mostra alguns desses fatores que maculam a infância brasileira, principalmente a pobre:

“No entanto, além da violência contra a vida, os jovens brasileiros também são submetidos a muitos outros tipos de violência, como a miséria, a negligência e abandono paternos, o desemprego, as agressões domésticas, tanto físicas quanto psíquicas, a falta de atendimento básico de saúde, a educação deficiente, as drogas e o tráfico e a moradia em locais marcados pela criminalidade ou controlados pelo crime organizado. De fato, crescer no Brasil, especialmente para as populações carentes, é uma experiência de alto risco” [12].
 
– Neste sentido João Farias JUNIOR acrescenta: “É a criminalidade que, tendo suas raízes intocadas, cresce, devasta, violenta, chacina, mutila e dilapida patrimônio, e se torna cada vez mais poderosa, mais potente, e mais desafiante” [13].
– Por outro lado, famílias das classes sociais abastadas, e principalmente as classes de parcos recursos, já não conseguem mais impedir as más companhias dos filhos. Na luta pela sobrevivência dos mais pobres e pela ganância dos ricos, ocorre o afastamento dos genitores na educação básica das crianças. As influências negativas e sem limites da mídia televisiva em horário nobre, com o seu culto às futilidades, novelas que incentivam ao crime, à prostituição, às drogas, à indução consumerista sem limites e às armadilhas da internet (pedófilos a caça de criancinhas, apologia as drogas, os perigos do Orkut) e filmes que induzem ao mundo da criminalidade é uma realidade incontestável e em plena ascensão. Milhares de infantes ricos e pobres estão sob os influxos da pedofilia, das drogas e da prostituição infantil. Freqüentam lugares degradantes, utilizam-se de substâncias alucinógenas, muitas vezes vendidas nas portas das escolas e até mesmo no interior delas. Tais fatos permitem que milhares sejam recrutados para as fileiras do crime organizado, outros tantos serão explorados sexualmente ou escravizados por adultos de personalidade e caráter pútrido e, entre esses exploradores, temos até autoridades ou profissionais de todos os níveis de educação que, aparentemente, estão acima de qualquer suspeita. O lastimável é que alguns desses criminosos, muitos de colarinho branco, freqüentam algumas sociedades que pregam as virtudes nobres, a moral, a retidão nos pensamentos, a retidão nas ações, o humanismo, o holismo etc. O mais interessante é reparar que alguns deles continuam ativos em suas fileiras, mesmo depois de descobertos em seus torpes crimes contra crianças, contra o erário público etc. Há alguns séculos passados seriam imediatamente banidos das fileiras de algumas dessas organizações e teriam a espada de Dâmocles bailando acima das suas cabeças.
– Por sua vez, o Estado, permeado por agentes corruptos, já não consegue mais esconder a degradação psíquica, ética e moral dos reclusos sob a sua guarda, os quais passam a viver um inferno em vida. Dentro dos presídios do Estado, os prisioneiros vivem em celas  sujas e úmidas ,contaminadas por doenças, além de estarem superlotadas. A promiscuidade é tão acentuada que o preso perde a dignidade e a própria honra que ainda lhe resta. O sistema prisional falhou e falha na ressocialização da grande maioria dos detentos. A corrupção chega a um nível pandêmico, provando definitivamente a falência do sistema correcional vigente, bem como da ineficácia da legislação penal baseada apenas nas causas criminais.
– Enquanto isso, na sociedade civil, os fatores criminógenos ampliam-se em proporções alarmantes, os bons costumes são invertidos ou pervertidos. O caos do medo e da desconfiança é instalado no seio das comunidades, além de ocorrer à banalização do bem mais precioso do ser humano: a vida.
– João Farias JÚNIOR reforça alguns dos fatores criminógenos já expostos quando assim se explana: 

“Além desses fatores há ainda a acrescentar as migrações e inadaptações sociais, os efeitos maléficos das comunicações sociais e imprensa, o tratamento corrupto e arbitrário da polícia, a morosidade da justiça criminal e a degenerescência prisional[14].

– E ainda complementa:

“Os influxos sociais maléficos se transmitem e são contraídos por indução, instigação, contágio, sugestão e imitação”

– Como muito pouco se tem feito no combate as causas endógenas e exógenas, ao atingirmos o fundo do poço, poderá haver o surgimento de um ordenamento jurídico penal cada vez mais contundente e insidioso, com a possibilidade, dependendo do rumo político dos hipócritas, de ocorrer à oficialização da prisão perpétua e da pena de morte[15] e com o total apoio do povo míope, de senso comum, conduzido até mesmo por enxertos subliminares midiáticos. Concretizando essas duas modalidades de pena máxima, estará decretado o afastamento definitivo das causas geradoras do crime e estarão atacando, potencialmente, apenas os efeitos criminógenos, além de ensejar o surgimento de um Estado policial, semelhante ao que ocorre nos EUA, cujo modelo já está sendo exportado para outros países que orbitam em sua volta.
– Qualquer semelhança com o Brasil não será mera coincidência. Loic WACQUANT em sua magnífica obra deixa claro o tratamento dado pelo Estado Policial dos EUA para com a sua população pobre esteoritipada:

“O encarceramento serve antes de tudo para ‘governar a ralé’ que incomoda – segundo a expressão de John Irwin (1986) – bem mais do que para lutar contra os crimes de sangue cujo espectro freqüenta as mídias e alimenta uma florescente industria cultural do medo dos pobres (com emissões de televisão Cops 911, que difundem, em horas de grande audiência, vídeos de intervenções reais dos serviços de polícia nos bairros negros e latinos deserdados, com o mais absoluto desprezo pelo direito das pessoas presas e humilhadas diante das câmeras)” [16]

– Neste sentido, algumas autoridades brasileiras já ensaiam medidas mais duras sem reconhecer os respectivos motivos que levam para o crescimento da criminalidade. Veja, por exemplo, o absurdo que um político, o Sr. Vice-governador Paulo Conde, em 2004, chegou a engendrar a possibilidade da construção de um muro gigantesco que iria isolar totalmente a favela da Rocinha, na cidade do Rio de Janeiro, e pelo visto, com o apoio da ex governadora Rosinha[17]. Se isto realmente chegasse a acontecer estaria decretado um reforço extra para o surgimento de um regime segregacionista. Na prática já temos uma guerra civil[18] em andamento e regimes ditatoriais instalados nas favelas e bairros pobres da cidade do Rio de Janeiro, com o extermínio sistemático de pessoas inocentes, de criminosos, de crianças baleadas, de policiais mal pagos e mal preparados. Tudo gerado pela inépcia do Estado.
– Para essas comunidades pobres, o direito básico constitucional de ir e vir é tolhido, além de outras garantias constitucionais serem desrespeitadas. Dessa maneira sórdida, a democracia de compadres e criminosos instalados no poder de várias localidades não permitem que as oportunidades sejam iguais para todos, estando a gerar os etiquetados e os rotulados dessa nossa pérfida sociedade. É festa na floresta de pedra para uns poucos e desgraça para a maioria.
– Com tudo o que já foi exposto, as causas exógenas poderão ser ampliadas ainda mais com a possibilidade de termos mais criminosos instalados no poder dito democrático. O vice-presidente do TRE do Rio de Janeiro, Alberto Motta Mores recentemente chegou a comentar que “só no estado do Rio, afirmou ele, há pelo menos 100 candidatos às próximas eleições que são acusados de homicídio, ou já foram condenados por ter matado alguém” [19]. E, em todo o Brasil, quantos criminosos estarão pleiteando um cargo de prefeito ou vereador? O inacreditável é que pessoas, bem instruídas, chegam a dizer, laconicamente e ironicamente, que isto é salutar para a democracia. Salutar para quem?
– O povo sem acesso as fichas sujas desses candidatos e sem uma excelente educação, com uma base sólida em organização social e política do Brasil, bem como uma educação moral cívica aprofundada, não terá condições de discernir entre os candidatos sérios e honestos (poucos) e centenas de criminosos que estão pleiteando cargos políticos, além do mais, muitos do povo pobre e miserável, vendem o seu voto por algumas míseras moedas, como o ocorrido em Boa Vista, capital de Roraima[20]. Não podemos nos esquecer de que temos (ex)governadores, (ex)senadores, (ex)deputados, (ex)prefeitos e (ex)vereadores sendo processado por diversos crimes em todo o Brasil. Sofrerão algum tipo de punição? A maioria escapará ilesa! É a criminalidade se organizando, ampliando os seus tentáculos e ameaçando a própria democracia, além de institucionalizar a corrupção desenfreada.

MAIS ALGUNS FATORES CRIMINÓGENOS 

– As diversas causas sociais (exógenas), mencionadas acima, ampliam a criminalidade de maneira imensurável e para somar a essas causas criminógenas, temos ainda, as dezenas de desequilíbrios fisiológicos que podem levar o indivíduo a delinqüir, muitas vezes de maneira dissimulada, como por exemplo, os pedófilos que levam a desgraça a tantas crianças. Entre essas causas (endógenas) citaremos apenas algumas das dezenas de distúrbios cientificamente catalogados: a. às Perversões e Anormalidades Sexuais, como por exemplo, a necrofilia e a pedofilia; b. os Paranóicos Ideológicos; c. os Fanáticos Religiosos, como por exemplo, os integrantes do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição[21] (1231 – 1821) que levou milhares de inocentes a serem torturados e queimados vivos em fogueiras, tudo em nome de Deus; c. mais modernamente surgiram novos grupos de Fanáticos Terroristas Religiosos que já levaram milhares à morte (Torres gêmeas- EUA), novamente tudo em nome de Deus. Temos ainda pessoas acometidas de: a. Paranóia Persecutória; b. o Maníaco de Notoriedade; c. o Deprimido; d. o Explosivo; e. o Astênico; f. a Neurose de Guerra; g. a Neurose Traumática; h. a Histeria; i. a Neurastemia etc.
– A lista dos fatores endógenos apresenta centenas de psicopatias e os poucos exemplos acima servem apenas para chamar a atenção de que as ações criminosas jamais poderiam ser um produto da livre vontade do individuo, como querem os aguerridos defensores do livre-arbitrismo do Direito Penal.
– Uma perguntinha: Quantos chefes de nações já estiveram ou estão sob algum influxo endógeno ou exógeno? Basta ver o comportamento de alguns chefes de Estado no passado (Alemanha/China/URSS/EUA etc.) e o que alguns líderes da atualidade estão fazendo na África, Ásia, Ámerica do Sul e Oriente Médio. E como será a situação no Brasil? Alguém com transtornos mentais pode ser eleito sem o menor percalço, pois nenhuma cobrança lhe será feita. Quem almeja um emprego público terá que provar a sua sanidade mental antes de assumir o cargo.
– Por esse caminho, dos fatores endógenos, é sábio, conveniente e salutar, observar que alguns medicamentos podem produzir efeitos colaterais, os quais podem induzir o individuo a cometer atos criminosos como, por exemplo, desenvolver a cleptomania. Experimente ler na bula os detalhes sobre efeitos colaterais. Você poderá ter surpresas. Exemplo: o medicamento Dexador da Ativus Farmacêutica Ltda. poderá produzir um estado de perturbação do comportamento, como nervosismo, insônia e psicose maníaca depressiva. Poucos médicos bem formados alertam sobre os efeitos colaterais. Portanto, cuidado com o seu médico e sempre leia a bula. 

SOLUÇÕES PARA UMA SOCIEDADE MELHOR OU APENAS UTOPIA

– Apesar de tudo, ainda temos saída para transformar a sociedade criminógena em algo melhor?
– A reforma política é essencial, pois assim como está não haverá mudanças e a violência será ampliada. Os ilusionistas de plantão, os bandoleiros, os homicidas, os corruptos, os pedófilos, os vendilhões da pátria etc., fazem parte da atual seara política malsã, estando a contaminar as três esferas governamentais e a própria República. Somente uma mudança drástica colocaria um ponto final nessa festa de “arromba” dos compadres poderosos e perigosos que se escondem por de trás das coligações políticas e que se revezam a cada pleito com utilização de urnas eletrônicas passíveis de fraude[22].
– Se a utópica reforma política chegasse a se concretizar teria que ocorrer mudanças no Direito Penal brasileiro que é livre-arbitrista, ou seja, não se preocupa com influxos exógenos e endógenos. Para esse direito penal, o indivíduo se torna criminoso por sua livre vontade, e, portanto, combate apenas os efeitos criminógenos com punições que não atingem a ressocialização correta. Essa visão penal errônea e secular teria que mudar, pois, na realidade, está apenas a realimentar a criminalidade.
– Se ocorressem mudanças saneadoras no ordenamento jurídico voltada realmente para as causas criminógenas, uma medida social por parte dos governantes seria cruciante: para alguns cientistas sociais as cidades precisariam diminuir urgentemente o contingente populacional através de um plano social governamental realmente voltado para o povo. Milhares deveriam de retornar para a área rural para trabalhar em pequenas propriedades com apoio tecnológico baseado em uma racionalidade ambiental e uma produção diversificada. Muitos aspectos positivos poderiam ser retirados dos belos exemplos oferecidos por Israel através dos Kibtuz, dos Moshav e dos Ishuv Kehilati[23] para um modelo auto-sustentável, apoiados na agroecologia[24] e, por indução, respeito à biodiversidade, evitando-se a monocultura e transgênicos, comprovadamente, nocivos a flora e a fauna. Uma reforma agrária justa evitaria que milhares de hectares fiquem nas mãos de latifundiários, de estrangeiros, de igrejas e de bancos, cujo objetivo é apenas o lucro exacerbado, não importando os meios.
– Um outro fator para mudanças nos grupos mais miseráveis da sociedade está relacionado com a educação que é uma das piores do mundo. Há a necessidade de que ocorra a erradicação de mais de 14.000.000 de analfabetos[25], a erradicação dos milhares de analfabetos funcionais que terminam o ensino fundamental e Ensino Médio mal sabendo ler e escrever e, obviamente, sem ter um senso crítico desenvolvido, o qual seria vital para amainar a criminalidade. Além do mais esse grupo social não está preparado para ser inserido no mercado de trabalho altamente meritocrático e tecnológico, mesmo quando alguns conseguem concluir o ensino superior em algumas instituições de qualidade duvidosa que os aceitam nessas condições.
– Veja que para Gordan MOORE, antevisando problemas graves no futuro, diz: “O que me preocupa é que só pessoas com uma ótima educação conseguirão bons empregos em um mundo tão evoluído” [26]. O que fazer com os excluídos? Campo de concentrações privados para a segurança dos incluídos?
– Infelizmente esse povo, esquecido pelo Estado e pela sociedade individualista dos incluídos não passam de presas fáceis, uma espécie de “boiada mansa”, para direcionar votos aos políticos maquiavélicos deserdados de honra e dignidade.
– Essa situação paradoxal do analfabetismo e da inversão de valores morais como causas da criminalidade pode ser bem expressa nas palavras do corifeu Rui BARBOSA: 

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver o poder agigantar-se nas mãos dos maus, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver a verdade vencida pela mentira, de tanto ver promessas não cumpridas, de tanto ver o povo subjugado e maltratado, o homem chega a desanimar-se das virtudes, e a rir-se da honra, e a ter vergonha de ser honesto” [27].

– Dando continuidade à seqüência salvacionista quase que ilusória ou utópica, seria necessária ainda a criação de um sistema educacional de cunho transdisciplinar, de tempo integral, para que se adquira a luz da cidadania, a luz do saber, a luz do humanismo[28], para que se tenha a consciência de que tudo no universo está interligado ao Todo. Para João Viegas FERNANDES, a educação atual baseia-se na “fragmentação e compartimentação do conhecimento por disciplinas não permite a compreensão da complexidade da natureza nem da sociedade” [29].
– Uma educação baseada em princípios transdisciplinares[30], acimentada na educação familiar correta, as trevas da ignorância seriam afastadas, a marginalização e o crime entrariam em declínio e com um percentual altíssimo. Cidadãos assim formados, dentro dos princípios de um novo humanismo e princípios holistas, teriam condições de criar um Código Preventivo Penal voltado para as causas criminógenas (exógenas e endógenas), pois debelada estas, o efeito deixa de existir. Políticos hipócritas que vêem apenas as causas criminais e se aproveitam delas, a exemplo daqueles que queriam construir muros segregacionistas, isolando favelas, ensejando uma indução a um apartheid social e econômico, deixariam de existir na política brasileira.
– É interessante frisar que na visão de pensadores marxistas o delinqüente seria um produto da sociedade capitalista, portanto apenas uma vítima. A alternativa para a diminuição da criminalidade teria que partir da revisão dos valores capitalistas pela sociedade. A obra de Antonio MOLINA complementa: “quem, desse modo, tem de se ressocializar, não é o condenado, mas a própria sociedade” [31].
– Enfim corrigida as causas criminógenas históricas mais comuns (Sócio-familiares, Sócio-econômicas, Sócio-ético-pedagógicos, Sócio-ambiental), e, infelizmente, somente a longo prazo, a população carcerária iria diminuir substancialmente. A criminalidade e a segurança iriam retornar a patamares aceitáveis nas cidades. Os crimes seriam apreciados sob a luz das causas endógenas e exógenas. A partir desse enfoque seriam aplicadas medidas de ressocialização, adequadas a cada caso, e sob um severo controle tecnológico pelo Estado.
– O Estado, por sua vez, manteria uma economia aberta, porém com oportunidades de ascensão social igual para todos e não apenas para uma minoria de privilegiados. Veja que estamos falando de um Estado voltado para os princípios humanistas[32] e holistas e não do atual Estado, minado pelo vírus da corrupção, que dividiu a Nação em poucos incluídos e a maioria em excluídos, obviamente todos rotulados ou etiquetados e com um péssimo sistema educacional com reflexos diretos na economia, nas comunidades sociais pobres e na ascensão da criminalidade organizada.
– É interessante observar que essa minoria elitizada combate os efeitos criminosos com medidas cada vez mais repressivas, com um absoluto desprezo pelos direitos das pessoas pobres, presas e humilhadas, preferencialmente diante de algumas câmeras, esquecendo-se que esses efeitos criminógenos foram produzidos pelo seu modelo de vida egoístico, predador e individualista. 

CONCLUSÃO

– A situação de insegurança da sociedade, deixa transparecer a possibilidade de que possam existir outros objetivos maiores, os quais, insidiosamente, dominam os políticos e a própria sociedade de maneira muito sutil. Na prática temos a ampliação da criminalidade, com seus fatores endógenos e exógenos centrados apenas nos efeitos criminógenos, utilizados como desculpas para ampliar o controle sobre as populações marginalizadas, incluindo a classe média, as quais são induzidas por propagandas midiáticas e, por “slogans sem sentido [33], parafraseando uma frase de Noam CHONSKI.
– Essas propagandas e esses slogans fazem com que as comunidades marginalizadas e classe média aceitem, placidamente, as novas formas de controle social que lhes serão impostas em médio prazo. Para manter essa, digamos, “boiada assustada” sob controle, os donos do poder (esquerda e direita) continuarão as distraindo e as marginalizando com os campeonatos de futebol, com sexualismo desvairado da podridão das novelas indutivas de novos costumes deletérios, com os filmes violentos, com carnavais anuais e fora de época, com os programas humorísticos, mantendo-as permanentemente assustadas com a criminalidade fora de controle, mantendo-as afastadas de vários problemas domésticos e principalmente políticos.
– Enfim, as peças enxadrísticas estão em movimento no grande tabuleiro da curta e cruel história brasileira. Vamos ver qual o lado que dará o cheque mate para o recomeço de mais um novo período histórico, o qual poderá ser totalmente democrático (para todos e não para alguns), holista e humanizado ou poderemos ter o pior de todos os horrores com o surgimento de regimes de extrema direita policialesco ou algo de podre parecido, preferencialmente importado dos EUA ou da Europa. Nesse tabuleiro um dos lados já está em desequilíbrio acentuado.
– Quem conseguir sobreviver ao trânsito caótico, regado a álcool[34] e da demência das nossas grandes cidades, quem conseguir sobreviver às ações criminógenas das hordas de excluídos e dos desmandos criminógenos dos incluídos, todos enriquecidos dentro das causas exógenas e endógenas, será a testemunha ocular de um novo regime em um futuro não muito distante, o qual poderá causar espanto até mesmo ao famoso escritor George Orwell[35].


[1] Mensagem subliminar. A arte da persuasão inconsciente Disponível em: <http://www.mensagemsubliminar.com.br>. Acesso em 07.09.2008.
[2] BECCARIA, Cesar. Dos delitos e das penas. Biblioteca clássica, v. XXII, 6. ed., São Paulo: Atena, 1959.
[3] Que provém do exterior.
[4] Que se origina no interior do organismo.
[5] BBC BRASIL. Com. Brasil está entre ‘democracias imperfeitas’, diz Economist. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2006/11/061121_brasil_democracia_crg.shtml>. Acesso em: 03.10.2008.
[6] Revista Veja. Edição 2075, p. 75 de 27.08.2008.
[7] “Cifras Negras” são os dados da criminalidade não revelada por fatores diversos ou não elucidados pela Polícia Judiciária que refletem um grande percentual de casos.
[8] Secco, Alexandre. A Criminalidade no Brasil bate recorde, apavora a sociedade e os governantes não conseguem vencer os bandidosDisponível em: <http://br.geocities.com/policiamilitar_br/crimbrasil.html> Acesso em 24.09.2008.
[9] BARROSO, Gustavo. Brasil colônia de banqueiros. 2.Reed. Porto Alegre: Revisão Editora, 1989.
[10] Corrupção não diminui no Brasil, revela ONG. Disponível em: . Acesso em 05.09.2008.
[11] No momento em que a algemas eram usadas em criminosos integrantes da classe “A” a gritaria foi geral e o STF limitou o uso das algemas. Quando elas eram usadas nos criminosos das classes miseráveis não havia essa preocupação exacerbada.
[12] VELASQUEZ, Miguel G. – Promotor de Justiça – Hecatombe X ECA . Disponível em:
< http://www.mp.rs.gov.br/infancia/doutrina/id527.htm > Acesso em 22 set. 2008.
[13] JUNIOR, João Farias. Manual de Criminologia. Curitiba: Juruá 2008.
[14] – JUNIOR, João Farias. Manual de Criminologia. Curitiba: Juruá 2008.
[15] A pena de morte não oficial já temos, ditada pelo poder paralelo das milícias e narcotraficantes em algumas grandes cidades.
[16] WACQUANT, Loic – Punir os Pobres – A nova gestão da miséria nos Estados Unidos, 2003, p 68
[17] Folha Online. Disponível em: >. Acesso em 15.09.2008.
[18] MIR, Luiz. Guerra Civil: Estado de Trauma. São Paulo: Geração Editorial, 2004.
[19] Revista Veja – Edição 2076, pg. 134, de 03/10/2008
[20] Folha de Boa Vista. Da redação. Moradores esperam amanhecer para vender votos no Conjunto Cidadão. Disponível em: < http://www.folhabv.com.br/noticia.php?Id=48066> Acesso em 05.10.2008
[21] – Na realidade a Santa Inquisição não terminou, apenas mudou de nome para “Congregação para a Doutrina da Fé” e, por hora, aboliu a tortura dos hereges. O perigo do fanatismo continua vivo, pois o seu líder atual continua dizendo que a única religião verdadeira é a católica e isto é um mau prenúncio.
[22] Página do voto eletrônico. O caso de Alagoas 2006. Disponível em: <http://www.brunazo.eng.br/voto-e/textos/alagoas1.htm>. Acesso em 15.09.2008.
[23] Israel Ministry of Foreign Affairs. Terra e o povo – Vida rural. Disponível em:
<http://www.mfa.gov.il/MFAPR/Facts%20About%20Israel/A%20TERRA%20E%20O%20POVO-%20Vida%20Rural> Acesso em 23.09.2008.
[24] Wikipedia. Agroecologia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Agroecologia > Acesso em 20.09.2008.
[25] Lobato, Vivian. 14,3 milhões de brasileiros ainda são analfabetos absolutos. Disponível em:
< http://aprendiz.uol.com.br/content/dreduclisl.mmp > Acesso em 15.09.2008.
[26] Tecnologia – Veja Especial – A lenda chamada Moore. Ed. Veja 2.078, p. 87 – Setembro de 2008.
[27] Senado Federal. Obras completas de Rui Barbosa – V. 41, t. 3, 1914. p. 86
[28] Humanismo Secular Portugal. Princípios básicos do Humanismo SecularDisponível em:
< http://portugal.humanists.net/principios-humanismo-secular.html > Acesso em 10.09.2008.
[29] – FERNANDES, João Viegas. Paradigma da educação da globalidade e da complexidade. Lisboa: Plátano, 2000.
[30] Theophilo, Roque. –Transdisciplinaridade e a modernidade . Disponível em:
< http://www.sociologia.org.br/tex/ap40.htm > Acesso em 10.09.2008.
[31] MOLINA, Antônio Garcia Pablos. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
[32] Universo do Conhecimento. Edgard Morin e o novo Humanismo. Disponível em:
< http://www.universodoconhecimento.com.br/content/view/127/57/> Acesso em 07.09.2008.
[33] CHOMSKY, Noam. Controle da mídia – Os espetaculares feitos da propaganda. Rio de Janeiro: Graphia, 2003, pg. 25.
[34] A recente promulgação da Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2.008 propõe “tolerância zero” para quem estiver dirigindo embriagado. Já houve a diminuição de mortes nas estradas, mas alguns inconformados argumentam a inconstitucionalidade da Lei. Espero que a preservação da VIDA prevaleça, pois esta também é uma garantia da CF/88.
[35] Eric Arthur Blair (1903-1950) usava o pseudônimo de George Orwell, jornalista e escritor inglês que publicou em 1949 o Best Seller Nineteen Eighty-Four (1984) e em 1945 Animal Farm (A Revolução dos Bichos).
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CRISE MORAL DA IGREJA (La crisis moral de la iglesia)

– A tentativa dos poderosos de ocultar certas verdades enfrenta, cada vez mais, grandes dificuldades em um mundo cada vez mais informatizado, onde os acontecimentos são transmitidos em segundos e, além do mais, há sempre um celular ou câmera fotográfica de prontidão para registrar cenas ou para fazer gravações por pessoas simples ou jornalistas independentes e por empresas jornalísticas pactuadas com a verdade.

– Por esse caminho, o jornalista Carlos Machado já denunciou a gravidade da pedofilia em seu artigo, transcrito para este blog sob o título: ¿DÓNDE ESTA MI HIJO? (ONDE ESTA MEU FILHO?) e agora traz novas denúncias, com o título: A CRISE MORAL DA IGREJA (LA CRISIS MORAL DE LA IGLESIA), publicado em 25.10.2006 no qual narra à presença perniciosa e doentia de homens envolvidos em pedofilia que abusaram e talvez ainda abusem de crianças e adolescentes, além de mulheres que já foram abusadas por sacerdotes. Todos são integrantes dessa organização religiosa que influenciou e influencia milhares de pessoas no planeta e que se diz como o único caminho a seguir, pois segundo eles, servem aos nobres propósitos de Jesus de Nazaré, mas que na prática o mundo teve a inquisição espanhola e portuguesa, o massacre de São Bartolomeu, o massacre dos Anabatistas, o massacre de judeus em Lisboa, o massacre dos habitantes da cidade francesa de Bíziers, as Cruzadas medievias, apoio ao Nazismo, corrupção etc. De acordo com os seus líderes: Tudo em nome de Deus!

– Devemos ter sempre em mente que a informação, o conhecimento, o apoio, o amor não individualista e a confiança entre pais e filhos são extremamente necessários, para a proteção dos nossos filhos e filhas e que nem sempre as aparências são verdadeiras. Tudo tem que ser observado, analisado, fundamentado e lançado na imprensa para que os pervertidos não possam triunfar e destruir a vida de crianças e adolescentes, além de outros crimes.

– Leiam e meditem sobre o artigo do jornalista argentino Carlos Machado, traduzido do espanhol para o português.

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A CRISE MORAL DA IGREJA

(La crisis moral de la iglesia)

(1)Carlos Machado

Faz mais de uma década que se tornou muito notória a crise de ética e credibilidade pela qual atravessam amplos setores da Igreja Católica. No entanto, um dos problemas que alimenta essa crise data, na realidade, de séculos: a violação dos votos de castidade, o abuso sexual e a pedofilia, três estigmas muito distante dos sofridos por Jesus Cristo, mas que estão firmemente gravados em muitíssimos de seus representantes na Terra, e que contam com uma lamentável cumplicidade: o acobertamento pelo Vaticano.

Uma nota da revista mexicana “Processo”, publicada há um ano, indicava precisamente que essas questões “vêm de tempo atrás e faz muito que é parte da realidade eclesiástica”, afirmação que aparece no livro “Votos de castidade”, escrito por cinco especialistas -Alessandra Ciattini, Elio Masferrer, Jorge Ederly, Marcos Hernández Duarte e Jorge René González Marmolejo – e editado no ano passado pela editorial Grijalbo. A conclusão do mesmo é que “na época colonial e até nossos dias, o celibato sacerdotal obrigatório na Igreja Católica da América Latina é, em geral, um mito, e na prática sempre tem sido opcional, pelo que é evidente o abismo entre o que dita o Direito Canónico sobre o voto de castidade e a vida sexual do clero”.

Em suas 214 páginas, o livro cita vários casos de violação ao celibato em variadas formas abusos sexuais, concubinatos, etc.–, detalhando, por exemplo, o caso “surpreendente e farto educativo” do jesuíta Gaspar de Villarías. O processo deste sacerdote no México, a princípios do século XVII, causou um escândalo que chegou até Roma, já que o voraz jesuíta tinha abusado de 97 mulheres, inclusive dentro de sua paróquia e muitas vezes no próprio confessionário. Em várias dessas ocasiões contou com a aceitação, influenciada ou não pela autoridade que lhe dava sua condição, das mulheres que chegavam até ele, e segundo “Votos de Castidade”, na longa lista deste sacerdote se incluíam “freiras, raparigas e senhoras maduras, tanto casadas como solteiras, e de todos os biótipos: brancas, mestiças, índias e negras, e de todas as condições sociais: ricas, pobres, serventes, libertas e escravas”. Como se pode ver, o travesso Gaspar não respeitava cabelo, tampouco limites. Finalmente, o religioso foi preso por um lapso muito curto, e em poucos dias saiu livre, com uma pequena advertência, pronto para continuar com suas tropelias, simplesmente mudando de unidade da Companhia. Esse foi todo o castigo que recebeu “o protagonista do maior escândalo sexual dos arquivos históricos da Igreja Católica do México”.

A respeito da época atual, o livro menciona o concubinato entre o ex-núncio apostólico no México, monsenhor Jerônimo Prigione, e a religiosa Alma Zamora, da congregação Filhas da Pureza da Viagem Maria, quem trabalhava para ele na sede da Nunciatura, bem como a proteção que Norberto Rivera Carreira, arcebispo primado do México, e o cardeal Roger Mahony, de Los Angeles (Califórnia), brindam ao sacerdote pederasta Nicolás Aguilar, quem só no México foi acusado penalmente por abuso sexual contra 60 menores, fugindo para os Estados Unidos, onde agora, recebe a proteção de Mahony, continuava fazendo das suas em outra paróquia.

Isto último, somado ao caso de Gaspar de Villarías faz quatro séculos, traz a colação o tema da proteção que às hierarquias mais elevadas da Igreja, incluído o Papa, tem brindado e seguem brindando aos membros da mesma que incorreu em todo o tipo de delito sexual, amparados por sua investidura. Esta constante atitude da Igreja quando se descobre a existência de pederastia ou abuso sexual por parte de suas representantes também é apontada no livro citado: “A hierarquia sacerdotal respondeu habitualmente a estas acusações com a negação, o ocultamento e a desqualificação dos denunciantes. Uma medida freqüente ante as denúncias penais impossíveis de controlar tem sido a recolocação discreta dos responsáveis para evitar a ação da justiça”.

Por sua vez, o jornalista e escritor espanhol Pepe Rodríguez, autor de “Pederastia na Igreja Católica”, expõe um argumento não menos contundente a respeito desta questão: “O problema fundamental não reside tanto em que tenha sacerdotes que abusem sexualmente de menores, senão em que o Código de Direito Canônico vigente, bem como todas as instruções do Papa e da cúria do Vaticano, obrigam a encobrir esses delitos e a proteger ao clero delinqüente. Em conseqüência, os cardeais, bispos e o próprio governo vaticano praticam com plena consciência o mais vergonhoso dos delitos: o encobrimento”. Clero delinqüente. Boa definição de Rodríguez para esta praga disfarçada de santidade.

País de porões quentes

O escândalo dos abusos sexuais por parte de sacerdotes – que conseguiu se manter bastante oculto por séculos – tem surgido em toda sua dimensão nos últimos anos, graças à luz que começaram a arrojar sobre o tema por vários pesquisadores e meios de imprensa, pondo em evidência, ademais, que o primeiro ato da cúpula vaticana tem sido sempre, e continua sendo, “esconder tudo”. Um escândalo que se propaga na maioria dos países do mundo e que tem sacudido em diferentes períodos as dioceses católicas da Itália, Espanha, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Irlanda, Áustria, Polónia, Estados Unidos, México, Porto Rico, Costa Rica, Colômbia, Brasil, Chile e Argentina, por mencionar os casos mais freqüentes, e que está destinado, como se disse, pelo encobrimento.

Segundo a revista brasileira “Istoé”, o Papa Benedicto XVI enviou em setembro de 2005 a Brasil uma comissão para pesquisar acusações que já se estavam a multiplicar demasiado. A mesma encontrou-se com uma dezena de sacerdotes condenados por abuso sexual, quarenta fugitivos e ao redor de 200 enviados pela Igreja brasileira a centros de atenção psicológica para que sejam “reeducados”. Dura realidade achada pela Cúria romana no país que contém a maior quantidade de católicos no mundo. Segundo uma investigação da mencionada revista, atualmente 1.700 curas – cerca de 10% dos registrados no país – estão a ser investigados por abusar de meninos e adolescentes.

Há muitíssimos casos individuais para relatar, mas vamos nos remeter ao que aparece quiçá como o mais horripilante, já que seu “exemplo” tem servido muito a outros sacerdotes para consumar seus baixos instintos. Trata-se de um eminente teólogo que costumava freqüentar os salões da alta burguesia de San Pablo e que, de acordo ao diagnóstico que se lhe fez a pedido de um julgado estatal, é um “pedófilo com determinados sintomas de narcisismo e megalomania”. Diga-se de passagem, as mesmas palavras que aparecem no estudo psicológico realizado, na Argentina, ao sacerdote Julio César Grassi, titular durante anos da Fundação “Felizes os Meninos” e protagonista, hoje em dia, de um alardeado caso de abusos sexuais a menores, pelo que ainda espera a sustentação do julgamento oral e público.

O citado teólogo brasileiro é Tarcisio Sprícigo, de 50 anos, e seu diagnóstico pode muito bem explicar o fato de que levasse um diário manuscrito com um relato de suas maldades. Por exemplo, numa parte do mesmo diz: “Preparo-me para sair para a caçada com a certeza de que tenho a meu alcance a todos os garotos que me apraza”, e aconselha “recolher das ruas, das delegacias, dos hospitais de caridade”. Antes que o prendessem, o religioso tinha abusado de muitos meninos de rua, para ele “os mais fáceis de controlar”. Nas páginas de seu diário, convertido num verdadeiro manual de pedofilia que inclusive foi consultado por outros sacerdotes de sua mesma tendência aberrante, descreve entre outras coisas como persuadir meninos: “Apresentar-se sempre como o que domina. Ser carinhoso. Nunca fazer perguntas, mas ter certezas. Tratar de conseguir garotos que não tenham pai e que sejam pobres. Jamais se envolver com meninos ricos”. Sprícigo, que antes de ser preso tinha sido transladado para uma paróquia rural, onde abusou de mais dois menores, estava muito seguro de suas tácticas: “Sou seguro e calmo, não me agito, sou um sedutor e após ter aplicado corretamente as regras, o menino cairá em minhas mãos e seremos felizes para sempre”.

Alguma de suas regras finalmente falhou, já que foi condenado a quinze anos de prisão por violar a um menino de cinco anos que tinha sob sua custodia. E, felizmente, neste caso, nem uma bula papal teria conseguido salva-lo do cárcere.

Como se disse, o “evangelho de Tarcisio” teve muitos seguidores. Alfieri Bompani, de 46 anos, preso por abusar de meninos dentre seis e dez anos de idade numa “favela” na que, segundo ele, fazia ajuda social, também teve fantasias de escritor. Além de levar um diário estava a terminar um livro de contos eróticos baseado em suas correrias pedófilas. E teve outros religiosos que a seus prazeres carnais somaram os da escritura e até a cinematográfica. Uma mostra é a detenção do sacerdote Félix Barbosa, de 44 anos, a quem foi encontrado numa orgia de drogas e sexo com quatro adolescentes que tinha contatado por Internet, e que gravou a cena com duas câmaras de vídeo. A polícia achou também um bloco de cartas com os relatos eróticos que Barbosa escrevia baseado em suas “experiências”. Enquanto o levavam como detento, o sacerdote gritava que conhecia a outros doze padres que faziam o mesmo que ele. Outro cultor das letras, o sacerdote Celso Morais, de 63 anos, regenciava um prostíbulo de menores destinado ao prazer dos irmãos da fé. Também escrevia suas memórias, e o conteúdo das mesmas é tão escabroso que a Justiça as marcou como “documento classificado”. Por sua vez o diário italiano “Correr Della Sera” aludiu a outro dos envolvidos em terras brasileiras, monsenhor Antonio Sarto, bispo de Barra dás Garças, acusado de abuso por parte de um sacerdote que ele mesmo ordenou.

A imprensa de vários países reconheceu que o Vaticano, ante os casos apontados, não teve mais remédio. Ficou obrigado a deixar de atuar a favor de seus representantes ao comprovar que não podia seguir ocultando os trapos sujos entre as paredes das igrejas.

Legião de predadores

Os Legionários de Cristo constituem uma organização católica específica dentro da Igreja, como o é também a “Opus Dei”, e como este se localiza à direita e se emoldura dentro dos postulados mais ultraconservadores. Seu fundador é o sacerdote mexicano Marcial Maciel, hoje octogenário e já fora de toda a função sacerdotal dado que — por fim — após várias décadas de ter cometido infinidade de abusos sexuais, o atual Papa Benedicto XVI não teve mais remédio, ante o cúmulo de provas acumuladas contra o padre, que o obrigou a se retirar de todo o tipo de exercício sacerdotal público. Isso sim, “por sua avançada idade” não será submetido a processo canônico e, como sanção de maior dureza, só foi condenado” a levar uma vida privada de rezas e penitências. Outro exemplo dos “castigos” que impõe o Vaticano, quando já é inevitável, a seus sacerdotes pedófilos. E uma condenação que as vítimas de Maciel, aguardaram anos para que se fizesse justiça, esperavam que a pena fosse maior e que o Vaticano colaborasse levando a Maciel perante a lei dos homens e terminasse no cárcere. Mas em realidade Maciel gozou sempre da proteção papal. Desde que Joseph Ratzinger presidia a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé – nome moderno da Santa Inquisição e um cargo em que ele se sentia muito cômodo — tinha conhecimento das andanças dos padres pedófilos pelo mundo. Maciel não foi a exceção, e desde 1998 o atual Papa sabia pelos relatórios do bispo mexicano Carlos Talavera e os depoimentos do pai Alberto Athié, um dos abusados por Maciel quando era seminarista, dos abusos sexuais do “legionario”. No entanto, Ratzinger negou-se então a abrir o caso, argumentando que Maciel “era uma pessoa muito querida para Juan Pablo II”. Este último foi, precisamente, um de seus principais protetores e inclusive, pouco antes de morrer, organizou um conjunto de homenagem ao líder dos Legionários por “promover os valores da família e da pessoa humana”. Suas vítimas sabem bem qual era a maneira predileta de Maciel de promover esses valores. Foram os jornalistas norte-americanos Jason Berry e Gerald Renner quem, através de um livro muito documentado, “Votos de silêncio. O abuso de poder durante o papado de Juan Pablo II” fez ver a Ratzinger o que se resistia a enxergar. Os autores consideram que a proteção da Santa Sé se deve a que o líder dos Legionários sempre ofereceu uma importante contribuição econômica ao Vaticano, e agregam que “no caso do pai Maciel nos enfrentamos a um encobrimento papal. Sua carreira é um caso de estudo sobre a desinformação: a distorção da verdade para atingir o poder e fabricar-se uma imagem virtuosa a partir de um comportamento patológico. Ao não pesquisar cargos sérios, o Vaticano ajudou a que se formasse este processo durante anos”. Existem depoimentos que arrepiam a pele, uma constante, quando se vai tomando conhecimento de casos e mais casos nesta questão. José Barba Martín, quem abandonou a ordem aos 25 anos, depois de sofrer vários abusos sexuais de Maciel, assegura que a pederastia está estendida em toda a Ordem, enquanto Juan José Vaca, ex-presidente dos Legionários de Cristo nos Estados Unidos e outra das vítimas de Maciel, afirma coincidentemente que os abusos sexuais nos Legionários são comuns: “Não tem sido somente Maciel o criminoso que cometeu esses delitos, senão que segundo os dados que vamos tendo já se pode falar de uma corrupção da instituição como tal. Já há vítimas novas, de segunda e terceira geração. Os abusados por Maciel de meninos agora são superiores, e esses superiores já têm abusado de outros. Somente no ano passado detectamos três novas vítimas: uma da Irlanda, outra da Espanha e uma terceira no Chile. Também temos outro caso na Colômbia. Onde os Legionários têm instituições, Maciel tem posto pessoas como ele, que pensa como ele e que está integrado nesse sistema como ele. E todos eles têm sido vítimas dele e depois se tornam autores”. Vaca assegura que até o ano 1976, quando saiu dos Legionários, foi testemunha ocular de outras 25 vítimas de abuso sexual de Maciel, e que ele próprio o foi durante dez anos. Comenta que, depois do submeter às vexações sexuais, o líder dos Legionários tentava lhe tranqüilizar dizendo: “Não te preocupes se tens remorsos de consciência; eu te dou a absolvição”, e agrega que “Maciel é um predador, hoje com a imagem de avô”.

Segundo outros depoimentos de vítimas de Maciel, este utilizava um padrão de conduta similar com os meninos ou adolescentes internos. Relatam que os elegia “bonitos”, que os mandava chamar a sua habitação para lhes pedir que lhe dessem uma massagem e que ao conseguir que lhe masturbasse, singelamente se justificava dizendo que tinha “dispensa papal” porque estava muito doente. A frase que utilizava com alguns para terminar com sua sinistra sessão era: “O que tens feito é um ato de caridade”.

Enquanto as centenas de vítimas abusadas por Maciel não podem esperar nunca justiça do que a muito suave condenação a “rezas e penitência” imposta ao predador pelo Vaticano, a questão mais urgente agora é saber até que ponto o cancro da pederastia está infiltrado na ordem dos Legionários de Cristo, já que milhares de meninos e adolescentes podem se encontrar em perigo.

Travesuras argentinas

Padre Julio César Grassi. Bispo Edgardo Storni. Bispo Carlos Maccarone

Segundo um estudo da Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos, mais de 4.000 sacerdotes já têm sido acusados em mais de 11.000 casos de abuso sexual contra menores entre 1950 e 2002. Dito estudo, difundido pela corrente CNN, foi compilado a partir de uma investigação a nível nacional realizada pelo Colégio John Jay de Justiça Penal para a Conferência dos Bispos. No entanto David Clohessy, do grupo Rede de Sobreviventes dos Abusados por Sacerdotes (SNAP suas siglas em inglês), afirmou que as cifras fornecidas nesse relatório lhe pareciam “baixas”, e agregou: “Os bispos têm tratado de ocultar isto durante anos, pelo que não há razão para achar que de repente vão mudar sua forma de fazer. A única coisa prudente é assumir que isto não é toda a verdade”. Um exemplo de como se desenvolveu também entre os religiosos dos Estados Unidos o gosto pela pedofilia, a proteção ficou clara pelas hierarquias católicas mais altas. Disso bem podem falar o bispo Roger Mahony, antes citado, protetor de pederastas fugidos de México, ou monsenhor Bernard Law, outro protetor de padres abusadores e protegido a sua vez por Juan Pablo II, quem o designou para ocupar um alto cargo no Vaticano.

No outro extremo do continente americano, na Argentina, os casos de abuso sexual por parte de sacerdotes não têm chegado ainda ao nível estatístico atingido em outros países. Mas, como dizem das bruxas, existem. Seguramente deve-se a um bem azeitado engrenagem de ocultamento, como em todos os casos. Inclusive têm corrido rumores de que enaltecidos monsenhores têm atirado alguma “canita ao ar” nesta questão, rumores que chegaram a roçar o próprio arcebispo de Buenos Aires e Cardeal Primado da Argentina, quem por sua vez contou com vários votos a favor durante o conclave que no ano anterior elegeu ao sucessor de Juan Pablo II, um teatro armado para a paróquia, cabe esclarecer, já que quem o sucedeu já era Papa pouco antes que Karol Wojtyla falecesse “oficialmente”.

Um caso emblemático e de muito alcance nos meios de imprensa — conquanto atualmente encontra-se algo estancado em tal sentido — é o do sacerdote Julio César Grassi. A partir da investigação de um programa televisivo em 2002, que pôs em evidência abusos sexuais cometidos por este contra menores de idade que se alojavam na Fundação “Felizes os Meninos”, por ele presidida durante vários anos, o tema atravessou por diversas instâncias e batalhas judiciais, que chegaram ao extremo de que, quando estava a ponto de se iniciar o julgamento oral e público contra o sacerdote, no último momento foi apartado o triunvirato de juízes que iam atuar, acusados de parcialidade manifesta, a favor de Grassi. O sacerdote, que já se envaidecia junto a seu exército de advogados de onerosos bens, pelo que considerava ia desembocar numa declaração de inocência. Veja agora como as coisas dão voltas: foi designado outro trio de magistrados para julgá-lo; algumas perícias psiquiátricas realizadas na província de Santa Cruz, onde também protagonizou casos de abuso sexual, arrojou como resultado — como se citou anteriormente — que a personalidade de Grassi é a de um “pedófilo com marcados sintomas de narcisismo e megalomania”; apareceram novas testemunhas abusadas pelo sacerdote que antes não se atrevia a declarar; e boa parte de sua equipe de advogados renunciou a continuar lhe patrocinando.

Conquanto a data do novo julgamento ainda esteja um tanto nebuloso, resultaria agora mais claro que Grassi já não irá ganhar todas, como se vangloriava no princípio. Também tem diminuído à freqüência com que o entrevistavam alguns diários ou o convidavam a seus programas televisivos certos jornalistas, alguns deles próximos ao “Opus Dei”, que o transformavam em vitima, lhe fazendo objeto de um “complô” e lhe dando espaço para que se pronuncie a gosto sobre sua pretendida “inocência”.

Os outros dois casos que chegaram ao conhecimento público na Argentina são os protagonizados pelo arcebispo de Santa Fé, monsenhor Edgardo Storni – cuja conduta era seguida pelo Vaticano desde 1994, mas nunca se conheceu o resultado do sumário, já que se ocultou o expediente -, e pelo titular da diocese de Santiago do Estero, monsenhor Carlos Maccarone. O primeiro, acusado de abusar de cinqüenta seminaristas, conseguiu ao que parece uma melhor proteção que Maccarone, já que continuaria, ainda que afastado da função sacerdotal, “em algum lugar” da província de Santa Fé, enquanto este último, que chegou a ser filmado durante umas relações mais que duvidoso com um jovem taxista, teve que renunciar a sua diocese e, ante a quantidade de provas contra ele, o Papa não pôde lhe conceder o benefício de um translado dentro do país, como costuma ocorrer neste sistema de encobrimentos, e foi transferido a cumprir uma vida de penitência” no México. Um dos detalhes que enfeitam a corrente viciosa de Edgardo Storni aparece no capítulo 9 do livro “Nossa Santa Mãe. História pública e privada da Igreja Católica Argentina”, da jornalista Olga Wornat, a qual se transcreve a seguir:

O Príncipe e o Pastor

“Era de noite. Chamaram-no ao dormitório principal. O garoto foi achando que devia cumprir alguma de suas obrigações diárias de cerimonial. Entrou à habitação só alumiada por dois veladores de bronze e uma estranha sensação de intimidação lhe inundou o corpo e o incomodou. Tratou de não pensar e obedeceu as diretrizes de seu superior. Ajudou-o a tirar a roupa. Fez com pudor, mas achando que era algo normal no seminário e que tinha que se acostumar às normas desse lugar no qual tinha chegado fazia três dias. Tremulo em frente ao corpo sexagenário, sacou-lhe peça por peça… Quando terminou, viu cair o corpo flácido do arcebispo sobre a cama, com sua desnudes só coberta com uma toalha. O garoto achou que já tinha cumprido com sua tarefa e se dispunha a se retirar, mas se equivocou. Jogado no leito de duas praças com respaldo de bronze, monsenhor chamou-o insinuante e pediu-lhe que o massageasse. Cada vez mais nervoso, mas movido pelo medo e o respeito que lhe infundia a figura, o seminarista apoiou suas mãos sobre a pele pálida, rosada e fofa, e começou a friccionar. Das massagens seguiu a desnudes completa e o pedido de que se deitasse ao lado, e que o acariciasse em todo o corpo, mas, sobretudo nos genitais.

“Confundido, turbado e temeroso, o rapazinho recém vindo do campo, filho de uma família humilde, obedecia e escutava as palavras serenas e incentivadoras que o alentavam: “- Isto não é pecado filho, eu sou monsenhor Storni, um pai para todos vocês, os seminaristas. Nosso amor tem que ser compartilhado. Deus vê bem esta mostra de amor entre dois homens, entre um pai e seu filho. Ele nos apóia desde o Céu.” “Quando terminaram, o garoto saiu perturbado do dormitório episcopal e se encerrou no seu dormitório. “Um colega observou que ele estava muito abatido, perguntou lhe se podia ajudar e ele lhe relatou, chorando, o sucedido”. Com uma careta indescritível de dor, vergonha e asco, um ex-seminarista de Santa Fé relatou-me assim a experiência que lhe confessou aquele garoto saído da zona rural. Desde esse momento, a fonte converteu-se em ouvido eleito por aquele rapaz, e depois por tantos outros, para vomitar a dor e a confusão dessas relações “incestuosas” e abusivas nas que se envolveram, seduzidos ou empurrados, pelo religioso mais importante da Arquidiocese de Santa Fé dos últimos dezessete anos.

Como dizem por aí: “Um botão basta de mostra, os demais… à camisa”.

As freiras também atraem

Há muitos sacerdotes abusadores que não desprezam, por suposto, não desperdiçar a um corpo feminino. Passando por todas as épocas e desde o “tigre do século XVII”, Gaspar de Villarías, até hoje, abundam os casos de sacerdotes que não se resistem à debilidade da carne quando aparece alguma colaboradora pela sacristia ou quando compartilham tarefas evangelizadoras com freiras. E são abundantes estes últimos casos, a ponto tal que já existem várias organizações configuradas por religiosas para defender seus direitos, fartas de se verem trabalhando como escravas ao serviço dos sacerdotes e também, o mais grave, como “carne sacerdotal”. Em março de 2001 tornaram-se públicas denúncias feitas em um nível muito alto sobre o abuso generalizado de freiras na África por parte de sacerdotes e o encobrimento do Vaticano. A realidade e magnitude do problema foi descrito a um repórter por Sor María McDonald, mãe superiora das Misioneras de Nossa Senhora da África. Seu relatório, titulado “O problema do abuso sexual a religiosas na África e Roma”, foi minimizado pelas hierarquias do Vaticano. O pai Noktes Wolf, abad primate dos monges beneditino tem afirmado, no entanto, que o abuso contínuo de freiras africanas é uma realidade e não um assunto de casos isolados. Então surge a pergunta: por que os abusos precisamente contra freiras e religiosas? Simplesmente por isto: na África, as freiras converteram-se num grupo especialmente vulnerável porque o voto de castidade faz delas candidatas menos prováveis para serem portadoras do vírus do SIDA (AIDS). Portanto são consideradas “colegas sexuais seguras” por muitos clérigos.

A extensão e falta de resposta deste fenômeno tem provocado protestos formais de parte de freiras a um alto nível. Por exemplo, a Conferência de Estudo das Irmãs da África Oriental (SEASC – suas siglas em inglês) denunciou formalmente estes abusos, através de suas delegadas, ante a Conferência de Bispos da África Central e Oriental, depois de sua reunião em Kampala, Uganda, em agosto de 1995. A SEASC tem a representação de 15 mil freiras de oito países africanos e conta com uma força considerável. Em sua queixa formal diziam: “Consideramos isto um assunto de justiça, o qual achamos que já não pode ser ignorado”. Por sua vez as freiras mexicanas, fartas dos constantes atropelos que vão desde ser utilizadas como simples serventes até sofrer violações sexuais de seus superiores religiosos, começaram também a se integrar num grande movimento internacional de protesto. Através de organizações mundiais como a Federação Internacional de Freiras ou a Coalizão de Freiras Americanas, as religiosas já organizam seus próprios “sínodos” e encontros internacionais para bombardear com suas demandas o Vaticano, mas já vão bem mais além de exigir um basta aos abusos sexuais. Estão a pedir além do que se acha um “ombudsman religioso”, o celibato opcional, exercer suas preferências lésbicas e serem sacerdotisas e bispas. Questões que ao Papa e ao corpo cardinalício os deixam mais vermelhos que a cor de seus capelos, e não de vergonha senão de ira.

Esta rebelião das freiras, que nos últimos quatro anos vai provocando choques a cada vez mais freqüentes com o Vaticano, coincidiu, por exemplo, em 2003 com a exibição, no México, do filme “No nome de Deus”, onde se revelam os maltratos, os abusos, incluindo os sexuais, e as vexações que milhares de mulheres desamparadas, mães solteiras e jovens violadas sofreram na congregação católica Irmãs da Magdalena, na Irlanda, durante a década de 1970 e até meados de 1980.

Conquanto não seja habitual encontrar este tipo de informação em muitos meios de imprensa, já seja pela censura vaticana, a governamental ou por se tratar de meios muito vinculados de uma maneira ou outra à Igreja, pode se apreciar que no México e outras partes do mundo, também as freiras já estão a lutar contra o complô de silêncio que pretende cobrir, como uma sombra, os abusos de que é objeto.

SIDA (AIDS) na Igreja

Outra realidade inquestionável sobre a qual a hierarquia católica exerce, teimosamente, a censura ou o ocultamento — tentando preservar à força uma imagem que já se lhe escapou das mãos faz tempo — é a existência do SIDA (AIDS) entre seus membros. Já em janeiro de 2000 o diário norte americano “The Kansas City Star” tinha feito uma investigação que revelou que “centenas de sacerdotes católicos morrem de SIDA (AIDS) nos Estados Unidos e mais centenas vivem com o vírus que causa a doença”, assinalando que “a Igreja e as ordens religiosas precisam reconhecer que existe um problema, que os sacerdotes praticam o sexo e que são susceptíveis às doenças de transmissão sexual, inclusive o SIDA (AIDS)”.

Segundo esse diário, “a cifra de sacerdotes que têm morrido por SIDA é difícil de determinar, mas ao que parece a doença provoca ao menos mais quatro vezes mortes entre sacerdotes que entre a população geral dos Estados Unidos, de acordo a depoimentos médicos e a análises de saúde, enquanto centenas vivem com o vírus de imune deficiência adquirida (HIV)”. Indica ademais que o fato de que o número exato de sacerdotes que morrem por SIDA (AIDS) ou infectados seja desconhecido, se deve em parte a que muitos deles sofrem seu padecimento em forma solitária, sem o revelar a ninguém, e que quando decidem comunicar a seus superiores, os casos se manejam geralmente de maneira calada. Cita o caso de Farley Cleghorn, um epidemiólogo do Instituto de Virologia Humana da cidade de Baltimore, quem declarou ao diário que tratou a uns vinte sacerdotes com SIDA (AIDS), os quais mantiveram sua doença em segredo.

Esta questão foi tratada, sem sensacionalismo algum, num filme britânico que as autoridades eclesiásticas tentaram censurar ou boicotar faz poucos anos (como o tentaram em meados deste ano com “O Código Dá Vinci“). Trata-se de “Deus salve-te” (”Conspiracy of silence” seu título original), filme que aborda o tema do celibato e denuncia o silêncio da Igreja em torno da epidemia de SIDA (AIDS) dentro mesmo da instituição. A história, cujo roteiro foi premiado pela International Screenwriting Awards, está localizada na católica Irlanda atual, e começa com a comoção causada por um sacerdote que se atreve a denunciar, no meio de um concilio do Vaticano, que na Igreja há religiosos morrendo de SIDA (AIDS), pelo que é severamente sancionado e enviado fora do país. A imagem mais impactante do filme é aquela que mostra as palmas das mãos do religioso com a legenda pintada “A Igreja morre de SIDA (AIDS)”, coladas desesperadamente ao cristal da limusine que o leva forçadamente ao aeroporto. O caso é que as mortes de sacerdotes por SIDA (AIDS) têm semeado tanta preocupação na Igreja, que a maior parte das dioceses e ordens religiosas estão a requerer atualmente aos aspirantes ao sacerdócio que se submetam a um exame de HIV antes de sua ordenação. Sempre em baixo da mais absoluta descrição, obviamente. Ao menos o bispo Raymond Boland, titular da diocese de Kansas City reconheceu sem disfarce que as mortes por SIDA (AIDS) mostram que “os sacerdotes são humanos”.

Sombras finais

Como corolário desta longa série de exemplos sobre a marcha na contramão da Igreja, cabe se referir a outro dos ocultamentos propiciados pelo Vaticano.

O fiscal chefe do Tribunal Penal Internacional para a antiga Yugoslávia (TPIY), a suíça Carla do Põe-te, vem acusando faz tempo à Igreja Católica e à hierarquia vaticana de ocultar ao general Ante Gotovina, de 50 anos, a quem muitos croatas consideram um herói nacional, mas que por seus crimes de guerra é uma das pessoas mais procuradas junto ao ex líder serbobosnio Radovan Karadzic e ao general Ratko Mladic. O general Gotovina permanece com paradeiro desconhecido desde 2001, quando foi acusado de crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Ex-oficial da Legión Estrangeira francesa, Gotovina supervisionou e supostamente tolerou a matança de ao menos 150 civis sérvios e a deportação forçada de uns 200.000, depois de uma ofensiva para impor de novo o controle croata na região de Krajina. Por sua vez, o governo croata é acusado pela comunidade internacional de insuficiente cooperação para dar com o paradeiro do geral, o que vem afetado negativamente seus esforços por negociar sua adesão à União Européia.

A promotora suíça, que é católica, diz estar decepcionada em extremo” pelo muro de silêncio do Vaticano, depois de meses de chamados segredos a seus mais altos servidores públicos, incluído um dirigido diretamente ao Papa Benedicto XVI, todos eles sem sucesso. Do Põe-te, numas declarações publicadas no ano anterior pelo diário britânico “The Daily Telegraph”, disse que “o Vaticano poderia assinalar exatamente em qual dos 80 monastérios católicos da Croácia tem encontrado refúgio o general Gotovina”, e denúncia: “Tenho informação de que está escondido num monastério franciscano e que a Igreja Católica lhe protege. Tenho tratado o assunto com o Vaticano, que se nega a cooperar comigo”. A promotora viajou inclusive a Roma para transmitir-lhe essas informações sobre o paradeiro de Gotovina ao ministro de Relações Exteriores do Vaticano, o arcebispo Giovanni Lajolo, mas este, além de lhe solicitar que lhe proporcione “provas da suposta proteção”, lhe disse não poder ajudar com o argumento de que “o Vaticano não é um Estado e não tem a obrigação internacional de ajudar às Nações Unidas a rastrear criminosas de guerra”.

Estranha resposta do prelado, se atemo-nos a que sempre se falou do “Estado Vaticano” e que este conta, entre seus servidores públicos de maior hierarquia, precisamente com um “secretário de Estado”. No entanto não estranha tanto que a hierarquia católica se mostre tão escorregadiça respeito dos criminosos de guerra, quando esta proteção tem antecedentes como o do papa Pío XII, quem como já é sabido facilitou a fuga para diferentes países da América, incluída a Argentina, de centenas de oficiais nazistas, não bem terminada a Segunda Guerra Mundial, até providenciou passaportes do “Estado Vaticano” tão desconhecido por seu atual ministro do Exterior.

Para concluir, cabe mencionar que o Vaticano está a receber com inocultáveis mostras de desgosto o aparecimento, além de filmes que o deixam em posição delicada, como os já citados “Deus te salve” e “No nome de Deus”, de documentários, livros e diversas expressões que põem em evidência seu sombrio processo. Tal o que ocorreu com o documentário que recentemente foi projetado na cadeia de televisão britânica BBC em seu programa de investigação “Panorama”, no que um relatório acusa ao Papa Benedicto XVI e à Igreja Católica de ter impulsionado uma política de ocultamento dos casos de abuso sexual de menores dentro da instituição. O Dito programa revelou um relatório secreto escrito pela Igreja em 1962, no que se insiste aos sacerdotes de manter em segredo os casos de pederastia, e assinalou também que o atual Papa redigiu, por sua vez, um documento para proteger aos sacerdotes acusados de abuso sexual a meninos e para esconder estes casos. Agrega inclusive que Benedicto XVI, quando era cardeal, seria o encarregado de que se cumprissem as diretrizes daquele relatório de 1962.

O produtor executivo do programa, Colm Ou’Gorman, ratificou as acusações: “Ao Vaticano não se importa com a proteção dos meninos para evitar os abusos, só lhe interessa proteger à Igreja como instituição”. Para tanto, o pai Tom Doyle, ex-advogado da Igreja que foi despedido do Vaticano por criticar a forma em que a instituição tratava os casos de pederastia, assinalou rotundamente no citado programa, ao interpretar o relatório em questão: “Trata-se de uma política escrita e explícita para cobrir casos de abusos de menores dentro da Igreja”. Este aberrante tema foi tratado também num livro de ficção, mas escrito sobre bases sólidas. Do recente aparecimento e em venda já em mais de vinte países, “Espião de Deus”, que começa com a morte de Juan Pablo II e é a primeira novela do jovem jornalista espanhol Juan Gómez Jurado que denuncia os abusos sexuais a menores por sacerdotes. O autor viu acordada sua curiosidade pelos abundantes casos de abusos ocorridos nos Estados Unidos, o que o levou a viajar a esse país para conhecer o tema “in situ”. Ali se transladou por diversas cidades, onde se contatou com numerosas vítimas que têm criado várias associações, e chegou a conhecer a existência de centros de reeducação para sacerdotes pederastas. Como tem podido se apreciar nesta longa resenha, a Igreja Católica em geral e o Vaticano em particular, que têm pretendido mostrar sempre uma cara revestida de sacrifício e santidade – à margem do boato e as riquezas que não condizem com a humildade cristã -, têm nos fatos outra totalmente oposta àquela, uma realidade demonstrada por suas falências e contradições: o sustentar com todo rigor o celibato através do tempo tem produzido todo o tipo de distorções mentais entre seus representantes; seus desonestos políticos levam ao Vaticano a atuar, ainda que seja “entre bambalinas”, como uma potência mais no concerto mundial e, se a ocasião o amerita, até a proteger criminoso de guerra; e a lista continua e é muito longa. Demasiado longa.

O que está a conseguir a Igreja, que já não pode ocultar fatos que pretendeu manter ocultos através dos tempos, é afastar dela cada vez mais católicos, desprotegidos sem atenção, e que os seminários se encontrem a cada vez mais vazios.

Em suma, dedicou-se minuciosamente a desvirtuar totalmente a missão para a qual foi chamada, faz mais de dois mil anos, por um enviado que viveu como homem e que morreu achando que essa morte era a chave para um mundo melhor. Uma chave que seus supostos representantes arrojaram faz muito tempo ao vazio.

http://www.avizora.com/atajo/colaboradores/textos_carlos_machado/0022_crisis_moral_iglesia.htm

http://www.kaosenlared.net/noticia.php?id_noticia=25598

(1) Carlos Machado é Jornalista da Tribuna de Periodistas da Argentina, Paz Digital, além de outros sites e periódicos.

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A INFÂNCIA TRAÍDA

– A sociedade segue por caminhos íngremes e perigosos conduzida por uma ideologia de liberalismo sexual, sem fronteiras, que atinge até mesmo o âmago de milhares de crianças seviciadas por adultos. Nesses tempos de globalização imposta pelos vencedores, as implantações de novos costumes, que atentam contra a integridade dos nossos filhos e filhas, acabam gerando uma série de fatores criminógenos, os quais, na conduta pervertida de muitas pessoas, são tidos como normais. Os que tentam combater, contrariando os interesses de alguns poderosos, correm riscos acentuados na sua integridade física, principalmente se os pervertidos pertencerem às camadas sociais mais elitizadas da sociedade.

– Vejam o caso do ex-conselheiro tutelar de Boa Vista que denunciou atividades de pedofilia em parceria com a Polícia Federal e agora, infelizmente, esta abandonando a cidade às pressas, pois corre risco de vida, já que vem recebendo diversas ameaças[1]. O ex-conselheiro reside em Boa Vista a mais de vinte e oito anos e pela sua coragem, solidariedade, integridade e visão humanista paga um preço alto pelas suas valiosas virtudes ao ter que se refugiar em outra cidade fora do Estado de Roraima. Tudo que construiu em vinte e oito anos esta em cheque por ser um homem de honra e por ser honesto.

– É obvio que as ramificações dessa quadrilha que aliciava menores para clientes pervertidos não foram removidas e, além do mais, pelo visto, existe uma cultura podre, onde abusar de crianças é considerado normal para muitas pessoas da sociedade.

– Nesse sentido, o jornal Folha de Boa Vista,[2] denunciou que o número de crianças de dez anos a quatorze anos grávidas vêem recrudescendo, enquanto que no país as taxas estão caindo graças a um trabalho social que procura atingir as causas geradoras dos efeitos indesejáveis para crianças e adolescentes. Em suas páginas, esse jornal, ainda denuncia que uma criança de nove anos[3] foi vitima de abuso sexual por um homem de 31 anos a poucas horas. É lastimável!

– Estes dados escancaram uma triste realidade da inocência ultrajada: crianças carregando nos braços outras crianças. Esses dados, na realidade, são apenas uma ponta do iceberg, já que as cifras negras[4] escondem dados muito superiores aos dados oficiais registrados.

– Tais fatos demonstram que o modelo de prevencionismo contra o abuso de crianças corre ao largo por parte dos órgãos encarregados de minorar a situação. Quem paga o preço desse descaso governamental e da própria sociedade são as crianças e os adolescentes, os quais são violentados, fisicamente e espiritualmente, por pervertidos que se escondem nas sombras do poder, das drogas e do dinheiro. Essas crianças e adolescentes, por sua vez, poderão dar continuidade a esse pérfido costume quando se tornarem adultos, caso não seja tomadas medidas de um tratamento psicológico correto.

– O Estado não corrupto e a sociedade sadia terão que engendrar programas sociais voltados para combater, definitivamente, as causas que induzem aos desvios criminógenos, tais como, os das drogas e da pedofilia e não apenas ficar centrado no combate aos efeitos purulentos do crime. A sociedade sadia e o Estado não corrupto terão que evitar que o homem não tenha vergonha de ser honesto e tampouco passe a escarnicar à própria honra, afim de que se possa dar toda a proteção aos nossos filhos e filhas da ação deletéria dos predadores pervertidos que as espreitam em cada esquina da nossa cidade.

– Em suma, o Estado não corrupto e a sociedade sadia terão que por fim a essa degenerescência da infância, aviltada sexualmente, que está a seguir por caminhos alcantilados repletos de armadilhas que incentivam o abuso por imitação, indução, sugestão, instigação e contágio.


[1] Souza, Willame. AMEAÇA DE MORTE – Conselheiro tutelar vai deixar Roraima. Disponível em http://www.folhabv.com.br/noticia.php?Id=45430. Acesso em 30.08.2008.

[2] Trajano, Andrezza. RR tem alto número de mães precoces. Disponível em http://www.folhabv.com.br/noticia.php?Id=47836. Acesso em 30.08.2008.

[3] Da redação. Operador de máquinas é preso ao tentar estuprar criança de nove anos no Cantá. Disponível em http://www.folhabv.com.br/noticia.php?Id=47836. Acesso em 30.08.2008.

[4] CIFRAS NEGRAS: Crimes que não chegam ao conhecimento do publico e que podem ser muito superior aos dados oficiais.

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NÃO ESTUDAM E NÃO DEIXAM ESTUDAR

Outro dia, um caminhão parou na prisão de segurança máxima de Catanduvas, PR. O motorista dizia trazer 3.000 livros de “presente” de Fernandinho Beira Mar para a, digamos, cultura prisional.

Em boa hora, mandaram o caminhão dar meia volta.

O Globo, coluna Ancelmo Gois, 08.mai.07, p. 16


– A informação acima foi publicado pelo Jornal Globo. Quando falamos de criminologia falamos das causas e dos efeitos. Uma solução seria aprimorar a educação para que se tenha a idéia da verdadeira realidade social, na qual temos uma grande maioria de excluídos e uma minoria de incluídos. O aprimoramento de conhecimentos traz a possibilidade de boas soluções. O detalhe é que para muitos essas soluções não são bem vindas, bem como manter os excluídos longe da cultura, pois certas verdades poderiam ensejar o surgimento de revolucionários e prejudicar a “Ordem e Progresso” da 42ª Democracia do planeta.

– De qualquer maneira, faço uma singela sugestão para o Exmo. Sr. Presidente da República: instrua os prisioneiros na arte de ler e escrever e depois doe para cada presídio 10.000 livros e entre os quais dezenas de exemplares de “Sociologia Crítica” do escritor Pedrinho Guareschi, exemplares do Manual de Criminologia do escritor João Farias, exemplares de Punir os Pobres: A administração da miséria no EUA do escritor Loic Wacquant, exemplares de Guerra Civil – Estado e trauma do escritor Luis Mir, exemplares de A sociedade Excludente do escritor Jock Young. Vou um pouquinho mais longe: faça com que o Estado esteja presente nas favelas e periferias das grandes cidades, não com metralhadoras e sim com projetos sociais e instale milhares de bibliotecas com esses livros e muitos outros que escancaram verdades escamoteadas do povo. Uma coisa é certa: as milícias armadas que estão a criar novas formas de opressão não iriam agradecer a Vossa Excelência.

– Com toda a certeza teríamos uma nova visão das palavras “Ordem e Progresso”. Como diz Nelson Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.



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